Unicef aponta desafios da educação pós-Covid
Os desafios da educação pós-Covid. Eventualmente, eles são muitos, e estarão no caminho dos educadores e gestores escolares. Não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Intuitivamente, todos nós já sabíamos que o retorno à escola não seria fácil.
O tema foi assunto de muitos posts aqui no Educador 360.
Ainda em 2020, fizemos uma série antecipando que nada mais seria como antes. Os textos abordavam as mudanças que teríamos de enfrentar no retorno às escolas, do ponto de vista dos professores, dos gestores, dos alunos e de seus familiares.
Mais recentemente, nesse sentido, abordamos as dificuldades emocionais que muitos de nós, educadores, enfrentaríamos no recomeço.
Agora, esses desafios começam a ganhar forma, números e rostos.
Relatório do Unicef
Divulgado no final de janeiro, um relatório do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância, o Unicef, dá uma dimensão mais concreta para o que todos nós imaginávamos, mas não tínhamos como mensurar.
Segundo a agência da ONU, em resumo, as perdas provocadas pela pandemia na educação de crianças são praticamente irreversíveis.
No início deste ano de 2022, pelo menos 616 milhões de crianças continuavam afetadas pelo fechamento parcial ou total de escolas em todo o mundo, segundo os levantamentos do Unicef.
Perdas de aprendizagem
Nos países de média e baixa renda, o Unicef identificou ampliação nas perdas de aprendizagem. Dessa forma, fechamento total ou parcial das unidades escolares elevou 70 o percentual das crianças de até 10 anos incapazes de ler e compreender textos simples. Antes da pandemia, esse percentual era de 53%.
Na Etiópia, citada como exemplo no relatório da agência da ONU, as crianças aprenderam apenas entre 30% e 40% das habilidades matemáticas que teriam desenvolvido se acaso, o ano letivo tivesse sido normal. Esse dado também se refere às escolas que atendem aos primeiros anos do Ensino Fundamental.
Abandono escolar
A África do Sul também foi citada como exemplo de um outro problema sério: a evasão escolar. Segundo o relatório do Unicef, entre 400 mil e 500 mil crianças abandonaram completamente a escola entre março de 2020 e julho de 2021.
Países ricos
Os prejuízos não se limitam aos países de média e baixa renda. Eles foram verificados também em nações ricas, como os Estados Unidos, por exemplo.
Segundo o Unicef, atrasos de aprendizagem marcantes foram observados em alunos das escolas públicas nos estados do Texas, da Califórnia e de Maryland.
Outros prejuízos
Os prejuízos causados, segundo o Unicef, não se limitam à deficiência na aquisição de habilidades básicas.
Em muitos países, as crianças tiveram reflexos sobre sua saúde mental, com aumento dos casos de ansiedade e pânico infantil, aumento de casos de abuso e privação nutricional.
Para pelo menos 370 milhões de crianças em todo o mundo, a escola era a única fonte de alimentação regular.
No Brasil
No Brasil, um levantamento feito pelo Datafolha a pedido do Instituto Unibanco mostrou, em dezembro de 2021, que 48% dos pais e mães de crianças em idade escolar consideravam impossível recuperar as perdas de aprendizagem causadas pela pandemia.
O Instituto Unibanco, porém, demonstrou otimismo quanto à possibilidade de recuperar essas perdas. Para seu superintendente, Ricardo Henriques, o caminho para essa recuperação exige que estados e municípios articulem políticas intersetoriais para trazer de volta crianças e jovens que podem ter abandonado a escola.
Apelo a educadores e governos
O chefe do departamento de Educação do Unicef, Robert Jenkins, declarou que a educação de crianças chegou a um ponto crítico no mundo. Para ele, não basta mais apenas reabrir as escolas. “Precisamos de apoio intensivo para recuperar a aprendizagem”, afirmou Jenkins no relatório divulgado peo Unicef.
O próprio Unicef trabalhou durante toda a pandemia para tentar mitigar os prejuízos com o fechamento das escolas. Seus programas ao redor do mundo ajudaram 301 milhões de crianças a terem atendimento remoto. Esse esforço ajudou, mas não foi suficiente para impedir os prejuízos apontados no relatório divulgado em janeiro.
O chamado para o apoio intensivo pressupõe o esforço de governos e autoridades na reestruturação escolar, e um empenho ainda maior de todos nós, educadores e gestores escolares, na recuperação da aprendizagem de nossos alunos.