A importância da educação antirracista

Gestão Escolar

Por mais quase dois séculos, a educação no Brasil foi pensada e estruturada por pessoas brancas, para atender crianças e jovens brancos. Toda a didática para o ensino de História, por exemplo, foi construída sobre uma versão escrita e contada pelas pessoas brancas que dominavam as estruturas de poder no país. 

Afinal, até a abolição da escravidão, em 1888, as crianças negras sequer podiam frequentar a escola. E a simples abolição não foi suficiente para garantir esse direito às crianças negras e indígenas. Elas continuaram excluídas ainda por mais tempo.

Sob essa perspectiva, pretos, pardos e indígenas – que sempre constituíram a maioria da população brasileira, até os dias de hoje – foram invisibilizados.

Hoje, essa visão eurocentrista não cabe mais como dominante na educação universalizada do Brasil. É papel da escola não apenas combater o racismo, mas também contribuir na construção de uma sociedade que abomina qualquer forma de discriminação. Uma sociedade antirracista.

Afinal, não basta mais formar pessoas livres de preconceitos raciais. É preciso formar pessoas que fiquem indignadas e combatam diariamente qualquer forma de manifestação racista.

No nosso texto de hoje, vamos explicar o que é uma educação antirracista, vamos mostrar em linhas gerais a importância da educação antirracista, de que forma ela se estrutura dentro da escola, o que é ambiência racial, e vamos indicar um curso gratuito de formação para professores e professoras de introdução à educação antirracista, além de um podcast que reconta a história do Brasil sob a ótica dos povos africanos escravizados.

Boa leitura!

O que é educação antirracista

De maneira geral, a educação antirracista deve se concentrar em combater toda e qualquer forma de manifestação de preconceito, ao mesmo tempo em que valoriza a contribuição histórica das etnias africanas e dos povos originários na construção cultural do Brasil.

Isso significa esquecer as contribuições dos povos europeus? Claro que não. 

O que não pode acontecer, porém, é centrar toda didática apenas na visão eurocêntrica. Essa é a primeira barreira a ser quebrada. 

As contribuições dos povos originários e dos povos africanos devem ser abordadas e trabalhadas com a mesma importância dada às contribuições europeias.

A importância da educação antirracista

Uma sociedade que não reconhece a importância de todas as diferentes culturas que contribuíram para sua formação jamais será uma sociedade igualitária. 

Um grande exemplo disso é o Brasil.

Ao longo dos séculos iniciais de formação da identidade brasileira, as contribuições dos povos africanos e indígenas sempre foram menosprezadas pela educação oficial. 

Esse processo resultou numa escola em que crianças e jovens de origem africana ou indígenas não têm direito a conhecer as origens, histórias, cultura e valores de seus povos. 

O resultado é um processo de baixa autoestima que forma um adulto inseguro, limitado em suas perspectivas acadêmicas, sociais e pessoais.

Segregadas por uma sociedade racista, elas são excluídas do protagonismo como indivíduos participantes da construção do país. 

A educação antirracista é um primeiro passo na descontrução dessa estrutura que limita os horizontes de crianças de origem africana e indígena.

Como estruturar uma escola antirracista

A esta altura, você já percebeu que a educação antirracista exige uma transformação da escola como um todo. Abordar as culturas africanas e indígenas apenas nas respectivas semanas comemorativas dessas etnias, definitivamente, não habilita uma escola a dizer que pratica uma educação antirracista.

O ensino das culturas de todos os povos que participam da construção da identidade brasileira deve estar contemplado em todos os componentes curriculares, ao longo de todo o ano. 

É uma transformação da cultura educacional que requer o envolvimento de toda a comunidade escolar: gestores e gestoras, professores e professoras, funcionários e funcionárias, pais, mães e responsáveis, alunos e alunas. 

Todos precisam estar engajados ativamente nessa transformação. 

Isso é necessário porque de nada vai adiantar mudar o discurso – promovendo e valorizando as culturas africanas e indígenas – se as práticas racistas continuarem em operação na escola.

E é aqui que entra a questão da ambiência racial.

O que é ambiência racial

Segundo os pesquisadores que se debruçam sobre a importância da educação antirracista, ambiência racial pode ser definida como “a impregnação de um ambiente de referenciais positivos que remetam à história e cultura de determinadas etnias, de modo a construir identidades, saberes e valores”.

Nas escolas brasileiras, toda a ambiência favorece a construção de identidades, saberes e valores das etnias europeias. 

Essas referências impactam as relações etnico-raciais na escola e geram consequências danosas para crianças e jovens de origem africana e indígena que impactam até a permanência desses estudantes na escola.

Um passo importante na estruturação de um modelo de educação antirracista, portanto, é desconstruir essa ambiência focada apenas na valorização das contribuições europeias para a construção do Brasil, trazendo para a prática escolar a valorização das contribuições africanas e indígenas.

Formação Gratuita

Este nosso texto tem o objetivo de despertar a consciência de professores e professoras, gestores e gestoras para a importância da educação antirracista. Para começar a implementá-la, porém, educadores e educadoras precisarão de apoio e formação.

Um passo introdutório nessa direção pode ser o curso “Introdução à Educação Antirracista”, disponível gratuitamente na plataforma Escolas Conectadas.

O curso foi formatado pelo ProFuturo, programa de educação da Fundação Telefônica Vivo e da Fundação Bancária la Caixa. Ele traz opções de abordagens pedagógicas transformadoras para a construção de uma nova ambiência racial na escola. Seu foco está no combate à discriminação e no respeito às diferenças.

Com carga horária de 16 horas, em modelo autoformativo, o curso mobiliza as competências gerais da BNCC de empatia e cooperação, autoconhecimento e autocuidado e responsabilidade e cidadania. 

A certificação é feita pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro.

A história do Brasil pela ótica dos povos escravizados

Você sabia que a Quinta da Boa Vista, palácio em que se hospedou a família real portuguesa em sua chegada ao Brasil, em 1808, foi cedida à Coroa por um traficante de pessoas escravizadas chamado Elias Antonio Lopes? 

E que o Império Brasileiro só se sustentou graças ao apoio financeiro e político de traficantes de escravos como os comendadores Joaquim e José de Souza Breves, que faziam parte da comitiva de D. Pedro I quando ele proclamou a independência?

Detalhes como esses ajudam a entender por que o Brasil foi o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão. O modelo de exploração do trabalho de pessoas escravizadas era um pilar econômico e político da sociedade brasileira.

Todos os aspectos desse modelo de exploração estão esmiuçados no Projeto Querino, que reconta a história do Brasil sob a ótica dos povos escravizados e mostra como a História explica o Brasil de hoje. O site reúne reportagens e 10 episódios em podcast, disponíveis gratuitamente.

Visite o site do Projeto Querino.

Leia também

Para encerrar, deixamos mais alguns links para outros textos do Educador360 sobre racismo, e também para material de outros sites que podem ajudar na construção de uma educação antirracista em sua escola. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Menu