Como uma gestão democrática pode ajudar com o protagonismo infantil na escola?
Não é de hoje que o processo de ensino centralizado nos gestores e professores é considerado defasado. Um dos principais motivos é a falta de uma gestão democrática, que pode limitar o protagonismo infantil, ao trabalhar pouca participação ativa dos alunos. Dessa forma, a atuação dos estudantes é focada em avaliações e algumas apresentações de trabalhos.
Ainda que de fato absorvam alguma informação, a principal consequência desse modelo é avançar nas séries escolares sem a oportunidade de desenvolver senso crítico. Pelo contrário, as vezes se percebe até mesmo o desestímulo.
Por fim, ao entrar na adolescência e na fase adulta, eles não estarão preparados para os níveis de tomada de decisão pelos quais serão cobrados.
A gestão democrática, no entanto, pressupõe uma abertura que estimula a participação efetiva de todos os envolvidos com a escola, direta ou indiretamente. Sejam professores, alunos, pais ou funcionários.
Para os alunos em especial, uma das maiores vantagens é o desenvolvimento do protagonismo infantil, que os estimula a capacidade de opinar e atuar em seu meio, desde os primeiros anos de idade.
Não à toa, Paulo Freire, um dos grandes pensadores da educação, nos lembra: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”
Quer saber como aplicar essa cultura construtiva em sua escola? Entenda por que e como trabalhar o protagonismo infantil de maneira estimulante entre as crianças!
O aprendizado deve ser ativo
Alguns gestores receiam mudar para uma metodologia mais aberta por não entenderem sua eficácia prática. Mas, felizmente, uma gestão democrática vai além de um conceito bonito.
De acordo com a Pirâmide do psiquiatra americano William Glasser, também conhecida como “Cone da Aprendizagem”, quanto mais as pessoas participam de um processo, mais elas aprendem. Dessa forma, o ápice de aproveitamento é quando se ensina o que se sabe aos outros.
Já outro estudo do professor Edgar Dale complementa a ideia ao trazer o nível de absorção do conhecimento após duas semanas do aprendizado, de acordo com cada abordagem de estudo.
O que logo se pode perceber é que o cérebro humano recorda até 50% do que aprendeu recebendo informações passivamente. Por outro lado, quando as pessoas se expressam ou participam ativamente, a absorção é de 70% a 90%.
Dessa forma, é nítida a importância do ensino voltado à experiência. Afinal, experiências são capazes de trazer significado real ao conhecimento. Quando as pessoas dizem ou fazem algo, são amparadas por um processo reflexivo e criativo capaz de aprofundar cada vez mais a absorção.
Mediação: existe limite para o protagonismo infantil?
Entendendo a importância do protagonismo nos estudos, é preciso delimitar até que ponto os alunos podem atuar.
O conceito de mediação ajuda a começar a trilhar este caminho. A mediação da aprendizagem ocorre quando os professores não fornecem respostas prontas mas sim ajudam a estimular os estudantes a formular suas próprias respostas.
Para entender melhor, vale lembrar sobre o estudo de zona de desenvolvimento proximal de Lev Vygotsky’s, que demilita alguns níveis de autonomia infantil. Esses limites se dividem entre as coisas que as crianças conseguem fazer sozinhas, outras em que precisam de ajuda e orientação e por fim, aquelas em que elas simplesmente ainda não estão aptas, independente da ajuda que recebam.
A ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) é o ponto intermediário que ocorre através da mediação, quando o aprendizado e o crescimento efetivamente acontecem.
Ou seja, nesta zona elas estão aptas a serem auxiliadas por pais, educadores ou mesmo seus colegas mais adiantados.
Algumas maneiras de estimular esse aprendizado é através de debates, resumos, criação de projetos ou mesmo jogos e brincadeiras. Em geral, qualquer atividade em que a criança exerça sua autonomia de raciocínio e experimentação.
Lembrando que especialmente durante a infância, os jogos possuem um papel relevante por seu caráter lúdico.
Também de acordo com Lev Vygotsky :”Ao brincar, a criança assume papéis e aceita as regras próprias da brincadeira, executando, imaginariamente, tarefas para as quais ainda não está apta ou não sente como agradáveis na realidade.”
Autonomia para cada fase infantil
Para ir além no entendimento do protagonismo infantil, ainda convém o olhar através da neurociência.
Ao entender os potenciais e desafios da primeira infância (0 – 6 anos) e dos anos escolares (7- 12 anos), é possível estimular determinadas habilidades adequadas a cada fase.
Na primeira infância por exemplo, o mundo da criança gira em torno de si mesma e ela aprende observando pequenas amostras e testando. Essa é uma fase em que tudo é muito novo, porém elas aprendem com agilidade. Portanto demonstrações e exemplos são ótimos para que elas tenham alguma referência antes de fazerem por si próprias.
Se você irá ensinar algum jogo, o ideal é que demonstre primeiro e depois deixe que ela tente a partir do seu exemplo.
Já nos anos escolares as crianças passam a interagir com o meio. Um momento onde as relações sócio-afetivas se iniciam especialmente na escola. Dessa forma atividades em grupos serão mais interessantes. Seja uma brincadeira, um debate onde eles possam se expressar ou mesmo um projeto em grupo.
Apesar das dicas, não existe uma regra ou atividade específica que delimite o protagonismo infantil. Nem mesmo as atividades são restritas à grade curricular.
O mais importante é que esta criança não seja uma mera receptora e desenvolva sua independência de pensar e agir de acordo com seus limites. Dessa forma, até mesmo os pequenos hábitos como organizar suas coisas e materiais contam!
Mas tenha certeza, uma gestão democrática, com foco em experiências relevantes, irão aumentar não só o aproveitamento e engajamento dos alunos, como irão estimular diversas habilidades como a autonomia, criatividade e comunicação!
5 Comentários. Deixe novo
Sugiro a inclusão das referências no final. Acho que isso facilitaria. Por exemplo, o livro ou artigo de Edgar Dale e William Glasser em que eles falam sobre seus estudos que os levaram ao cone de aprendizagem: ou seja, a concluir que há maior aprendizado em cenários pedagógicos como os que estão presentes na pirâmide. Como eles investigaram este assunto?
Olá Ronaldo, como vai? Obrigada pelo seu feedback. Vamos tentar trabalhar dessa forma nos próximos posts!
Continue nos acompanhando!
Grande abraço.
[…] de uma metodologia voltada à experiência, por exemplo, é possível medir resultados já durante as aulas e não apenas esperar para avaliar […]
Gostei muito desse tema, gostaria de saber mais sobre este assunto.
Tenho uma escola, mas não tenho conhecimentos sobre o assunto, com este tema está me ajudando muito a perceber sobre gestão escolar, administração, nas diversas áreas. Mas gostaria de ter mais informações
Gostaria de fazer uma formação com vosco para saber mais.
Obrigado