Neurociência na Adolescência: como desenvolver empatia e se conectar com os questionamentos de uma fase turbulenta
Todos sabemos da intensidade do período da adolescência. Afinal esse é o momento de passagem da infância para a vida adulta.
Além do florescimento físico e hormonal, há também as pressões externas que os levam à questionamentos mais profundos. A busca por uma identidade consolidada, ao mesmo tempo, precisa fazer sentido com o meio através da aceitação social.
Nesta fase, existe também uma forte busca pela própria independência, inclusive sobre os próprios traumas e medos que muitas vezes se enraízam na infância.
São os problemas emocionais mal trabalhados nas fases anteriores, responsáveis por doenças psicológicas que costumam aflorar com intensidade durante a adolescência, como o da depressão e o da ansiedade.
Portanto, é na adolescência que está uma das grandes oportunidades de reestruturação psicológica, especialmente por meio da orientação familiar e escolar, antes de que esses jovens transfiram seus problemas emocionais para a vida adulta.
Apesar da possibilidade de transformação ser constante, após a adolescência eles terão que lidar cada vez mais com suas questões sozinhos e inclusive podendo transferi-las a outras crianças dos quais serão responsáveis, direta ou indiretamente.
Entenda melhor os dilemas da adolescência e como os educadores podem se comunicar e ajudá-los!
Quanto tempo dura a adolescência e por que?
O período da adolescência, tecnicamente, consiste na faixa etária entre os 12 aos 18 anos de idade. Porém estudos mais recentes apontam que a adolescência dura até os 24 anos.
Isso porque o prazo de 18 anos está mais ligado a uma questão social onde entende-se que o jovem já está legalmente emancipado. Em contrapartida seu cérebro ainda continua em formação por mais alguns anos e não à toa são durante os primeiros anos da juventude que eles se encontram mais suscetíveis a determinadas experiências de riscos.
Esse fator está ligado às atividades cerebrais que fornecem uma maior sensação de recompensas físicas como comida, sexo e drogas neste período. O que se torna um fator de atenção, porque não só aumentam as chances de vícios enquanto os neurônios também são mais severamente afetados.
Ainda assim, não são os fatores neurológicos ou biológicos que os levam a qualquer experiência nociva. As atitudes consideradas inconsequentes costumam despontar nesta fase, porque além do início da independência que os permitem fazer mais escolhas sobre suas vidas, com o distanciamento da presença constante dos adultos, eles estão lidando com diversos questionamentos internos.
A insegurança, a necessidade de aprovação e falta de autoconhecimento resultante da pouca experiência, podem os levar à uma fuga da realidade e consequente busca externa mais ou menos intensa caso eles não estejam preparados social e emocionalmente.
Uma fase de muitos questionamentos
Segundo os estudos de Piaget, este momento recebe o nome de operatório formal. Uma característica muito predominante, portanto, é a capacidade de reflexão.
Isso pode ser percebido porque diferente da criança, os adolescentes passam a refletir para fora do presente e elaborar suas próprias teorias sobre todas as coisas. Esse raciocínio hipotético-dedutivo é o que os levam a questionar com maior frequência e profundidade. Dessa forma começam a planejar o futuro e desafiar modelos pré-estabelecidos por si mesmos ou por fatores externos.
Essas pressuposições não têm relação necessária com a realidade e também por isto, é comum que eles mudem de opinião rapidamente. Assim, estão constantemente interpretando e testando dentro de suas possibilidades.
Também é preciso considerar que esta é a fase de planejamento para a vida adulta, quando o adolescente deixa de ser apenas reformador de hipóteses para se tornar realizador. Conforme ele consegue ter aplicação prática de suas teorias, que se conecta com a realidade e se torna capaz de decisões mais assertivas características da maturidade.
Ao mesmo tempo que essa fase de reflexão indica um certo amadurecimento cognitivo é sempre importante equilibrar as emoções e a autoconfiança desenvolvida por meio da inteligência interpessoal. Afinal os excessos de questionamentos não devem os levar a conclusões muito distorcidas sobre a vida e si mesmos.
Quando as emoções não estão sendo trabalhadas, é possível que a confusão mental, que já é característica da fase, seja acentuada a níveis desnecessários.
De acordo com a psicóloga Clara Regina Rappaport, autora de diversos livros sobre desenvolvimento infantil e psicológico: “Na visão Piagetiana, a transição de um período a outro necessariamente provoca um desequilíbrio temporário que, posteriormente, dá lugar a uma forma superior de raciocínio. Desta maneira, no início de cada nova etapa, verifica-se uma predominância da assimilação sobre a acomodação – o indivíduo incorpora a realidade às estruturas que já possui. Pouco a pouco, através de um processo gradual, as estruturas internas tornam-se adequadas à realidade, atingindo assim, um equilíbrio maior”.
A importância da estrutura emocional nas fases anteriores
Vale lembrar o período da adolescência como consequência da estrutura socioemocional construída nas fases anteriores, que dizem respeito à primeira infância e aos anos escolares.
Quando a educação é trabalhada de forma adequada dentro e fora da escola nesses momentos que se precedem é natural que a turbulência característica da adolescência seja amenizada.
Sendo este ou não o caso, nunca é tarde para começar. Algumas escolas sentem que apenas as crianças pequenas podem ser moldadas nesse sentido, mas quando a educação socioemocional foi negligenciada na infância, o sinal de alerta é ainda maior para os adolescentes.
Começando por uma comunicação aberta que parte da perspectiva de vida deles até um trabalho mais profundo com metodologias focadas para as competências socioemocionais.
Como se comunicar com adolescentes?
Mesmo tendo entendimento dos desafios da adolescência, os educadores precisam entrar em sintonia com este momento de forma compreensiva e aberta. É então que a comunicação se torna essencial para acessá-los e ajudá-los verdadeiramente.
No vídeo abaixo, o psicológico Frederico Mattos fornece dicas de como se comunicar com eficiência com os adolescentes, respeitando seu momento de vida.
Apesar de focar no papel do pais, essas dicas ajudam a guiar os educadores já que a essência da mensagem é justamente como entrar em contato com esse mundo de forma mais realista e empática.
De acordo com Frederico, o adolescente reage sempre como um espelho da forma como é tratado. Por isso não é incomum que eles se tornem modelos de seus pais, ou mesmo sigam o caminho do extremo oposto quando os consideram contra-modelos.
Em resumo, alguns dos pontos principais a serem aplicados pelos adultos são: a observação da própria postura interna e a abertura para ouvi-los, fugindo tanto do autoritarismo quanto da excessiva permissividade, além da aceitação do seu momento de ambivalência, já que de fato eles estão lidando com muitas escolhas e experimentações.
De acordo o psicólogo, é preciso lembrar da própria adolescência para desenvolver empatia e fugir dos rotulamentos e moralismos . Algumas das formas para se fazer isso é ter humildade para admitir não saber e assumir um pouco da própria vulnerabilidade ao compartilhar suas próprias histórias.
No final, os adolescentes também estão em busca da aceitação dos adultos, tanto quanto de seus amigos, por mais que eles não admitam. Quanto mais você os aceita e compreende, mais próximos eles estarão de você.
E vocês educadores, já estão preparados para colocar essas dicas em prática na sua escola e trabalhar uma cultura de diálogo mais aberto com eles?
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É muito importante dialogar com o adolescente, ouvir sem julgar, procurar orientar com respeito e empatia.