Adolescência e emoções: como a escola pode lidar
A adolescência é, sem dúvida, uma das fases mais desafiadoras da vida. Para quem a vive e para quem educa. Oscilações de humor, impulsividade, apatia seguida de euforia, conflitos com regras e com a própria imagem. Tudo isso, muitas vezes, é interpretado como “drama” ou “rebeldia”. E se olharmos sob a perspectiva da neurociência?
A instabilidade emocional na adolescência tem causas biológicas profundas, que envolvem o amadurecimento do cérebro, especialmente das áreas responsáveis pelo controle emocional, empatia e tomada de decisões. Compreender esse processo é essencial para que educadores saibam acolher e orientar os alunos com mais empatia e menos julgamento.
O que está acontecendo no cérebro adolescente?
Durante a adolescência, o cérebro passa por uma verdadeira reconfiguração. A região do sistema límbico, ligada às emoções e à recompensa, amadurece antes do córtex pré-frontal, área responsável pelo controle dos impulsos, planejamento e avaliação de riscos.
Isso significa que o adolescente sente muito antes de conseguir processar racionalmente o que sente. É como ter um carro com motor potente, mas com os freios ainda em ajuste.
Além disso, o excesso de conexões cerebrais da infância passa por uma “poda neural”, que fortalece as trilhas mais usadas e elimina as menos frequentes. Esse processo gera momentos de instabilidade, dúvidas e até retraimento.
Como a escola pode acolher esse processo?
Compreender o que está por trás da instabilidade emocional na adolescência é o primeiro passo. O segundo é agir com escuta, intencionalidade e repertório. Aqui vão estratégias pedagógicas possíveis:
1. Promova rodas de conversa frequentes
Crie espaços regulares onde os alunos possam falar sobre emoções, relações, identidade e autocuidado. Normalize o desconforto como parte do crescimento.
2. Ensine competências socioemocionais com propósito
Programas como o MenteInovadora, da Mind Lab, oferecem recursos para trabalhar empatia, autocontrole, escuta ativa e resolução de conflitos com jogos e dinâmicas acessíveis.
3. Use a linguagem do corpo e do afeto
Atividades que envolvam movimento (teatro, esportes, dança, jogos cooperativos, por exemplo) ajudam a expressar emoções de forma saudável. A arte também é poderosa nesse processo.
4. Acolha os erros como parte da aprendizagem
Adolescentes erram tentando acertar. Mais importante do que apontar falhas é mostrar caminhos de reparação, reflexão e reconstrução.
5. Forme alianças entre escola e família
Promova encontros com responsáveis para compartilhar conhecimento sobre o desenvolvimento emocional. Isso fortalece vínculos e reduz ruídos.
E o papel do professor?
O professor é um modelo afetivo e ético. Ao demonstrar equilíbrio, empatia e escuta, ele se torna referência emocional — ainda que o adolescente não o verbalize. Portanto, cuidar das próprias emoções, pedir ajuda e estabelecer limites saudáveis é tão educativo quanto qualquer conteúdo disciplinar.
Investir na própria formação em educação emocional e neurociência é uma estratégia potente. Há cursos gratuitos sobre o tema em plataformas como a Escola de Formação de Professores, além de conteúdos da Mind Lab que podem ser integrados ao planejamento escolar.
Adolescência não é crise: é travessia
Mais do que um problema a ser resolvido, a adolescência é uma travessia a ser acompanhada. Ela pede escuta, presença e estrutura. E, sobretudo, professores preparados para atuar como pontes entre o caos e o crescimento.
Ao reconhecer que por trás de cada silêncio ou explosão existe um cérebro em desenvolvimento e um coração em busca de sentido, damos o primeiro passo para uma educação mais humana e transformadora.