Novo Ensino Médio: entenda os propósitos e o momento atual da reforma!
Desde o anúncio do novo currículo do Ensino Médio, sancionado em Fevereiro de 2017, amplia-se o debate em torno das mudanças previstas.
Entre os pontos de destaque está a flexibilização da grade curricular dividindo a carga horária entre matérias obrigatórias e opcionais. A ideia é que esta última etapa escolar se conecte mais com a realidade profissional dos alunos que se seguirá.
Vale lembrar que no momento, as decisões encontram-se em andamento e há divergências de opiniões quanto às mudanças propostas, tanto quanto suas formas de aplicação. Ainda assim, existe um consenso geral de que a reforma do modelo atual é de extrema importância para evoluir os níveis de educação no Brasil.
De acordo com Júlio Gregório, secretário de Educação do Distrito Federal: “Durante muito tempo, o ensino médio de sucesso era preparatório para exames vestibulares”. Hoje, não pode ser esse o conceito”.
Um dos desdobramentos dessa mudança de visão, é considerar as competências socioemocionais que deverão estar previstas na BNCC ainda a ser entregue.
As rápidas mudanças do mercado de trabalho e do cenário do mundo moderno, que contempla o fenômeno conhecido como VUCA, ajuda a elucidar esse propósito. Traduzido do inglês, VUCA representa as iniciais de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Em resumo, essas são as palavras que definem o contexto geral em que vivemos na sociedade de hoje.
Tal contexto indica que, na prática, as pessoas precisam se adequar às posturas ditadas pelas competências socioemocionais, tanto quanto ou até mais do que apenas desenvolver capacidades cognitivas e técnicas.
Uma pessoa muito competente em suas tarefas, mas que não souber trabalhar em grupo por exemplo, facilmente enfrentará problemas no mercado. O que acontece é que hoje os alunos estão deixando o Ensino Médio sem esse preparo.
Entenda então os principais pontos por trás das mudanças do Novo Ensino Médio que se conectam com o mundo real, assim como prazos e as dúvidas do que ainda precisa ser decidido!
Flexibilidade no Currículo
O currículo agora será dividido em duas partes centrais, sendo 60% do tempo voltado para as disciplinas fixas definidas por conteúdos direcionados pela BNCC e comuns a todos e 40% flexível para escolha dos alunos conforme suas áreas de interesse.
Para a parte flexível, que é o itinerário formativo, os alunos poderão escolher uma determinada área de conhecimento para focar.
As áreas de conhecimento estarão divididas em grupos: Matemática, Linguagens (Português, Inglês, Artes e Educação Física), Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química) e Ciências Humanas e Sociais (História, Geografia, Sociologia e Filosofia). As matérias obrigatórias durante os 3 anos serão Português e Matemática e Inglês. Algumas disciplinas ficaram a critério das escolas ou poderão ser trabalhadas de maneira flexível.
Ainda haverá a opção de escolher uma formação técnica profissional dentro da própria carga horária do Ensino Médio, contanto que as matérias obrigatórias sejam cursadas. Ao final, o estudante que optar pela formação técnica terá o diploma de Ensino Médio e o Certificado do Ensino Técnico.
É importante entender que a flexibilidade exercita também um poder de autonomia e tomada de decisão nos alunos.
Isso porque mesmo que esses alunos mudem de ideia posteriormente, é mais fácil que suas aptidões sejam analisadas ainda na escola do que diante do vestibular ou mesmo depois de ingressarem na faculdade.
Afinal as estatísticas já apontam para altas taxas de desistência ou mudança de curso no Ensino Superior, uma situação que acaba frustrando pais e filhos. Isso acontece devido à falta de autoconhecimento que não costuma ser estimulada na escola. Diante de tantas opções, os alunos escolhem por impulso ou pressão.
Com a flexibilidade, mesmo aqueles que não optarem pela formação técnica, poderão testar suas afinidades de acordo com as áreas escolhidas para estudar dentro do itinerário formativo.
Período Integral
Para que este currículo seja melhor aproveitado, o período integral foi um dos debates trazidos para viabilizar a absorção e aprofundamento do conhecimento.
Especialmente quando se trata da formação técnica que irá exigir uma dedicação paralela. A formação técnica inclusive é uma tendência mundial aplicada nos países mais desenvolvidos. Na Europa, o índice ultrapassa os 50% a chega a 70% em países como Áustria e Finlândia. Mesmo que não seja uma opção obrigatória, a ideia é que os alunos se sintam estimulados a pensar na profissão mais cedo.
Porém ainda existem muitas dúvidas sobre a quantidade de horas que deverá ser estabelecida. Hoje, a carga horária é de 800 horais anuais, sendo 4 horas por dia cumpridas ao longo de 200 dias letivos. Para que o ensino seja considerado integral é preciso cursar no mínimo 7 horas diárias, que totalizam 1400 horas por ano e 4.200 ao todo.
O fato é que nem todas as escolas deverão adotar esse modelo. Até então, a reforma prevê apenas que todas elas aumentam a carga horária em uma hora (5 horas diárias), totalizando 1.000 horas anuais. Essa já é a realidade de alguns Estados como São Paulo, Espírito Santo e Santa Catarina. Para os outros estados o período de implementação é de até 5 anos a partir da reforma, com limite até 2022.
Quem optar pelo ensino técnico por exemplo, deverá cursar 2.400 horas do ensino médio regular e mais 1.200 do técnico ao todo.
No entanto, o ensino integral que contempla as 7 horas diárias também já é realidade em algumas escolas no Brasil. A ideia é que esse modelo se expanda gradativamente. O que não existe até então é uma obrigatoriedade ou mesmo prazo para que se implemente a um nível geral.
Multidisciplinaridade
A Nova BNCC do Ensino Médio também aposta nos projetos multidisciplinares envolvendo as disciplinas que se encaixam no mesmo eixo. As únicas que serão estudadas isoladamente serão Português e Matemática.
A Multidisciplinaridade se conecta à complexidade cada vez maior de informações e situações, como prevê o C de complexity (complexidade) no VUCA. Ou seja, ao estudar apenas matérias e conhecimentos isolados, dificilmente será possível atingir soluções inteligentes para os complexos problemas atuais.
Portanto esse é um fator que ajuda a elevar o nível de pensamento dos alunos, auxiliando-os na visão de um todo. Percebendo como as matérias e conhecimentos se interligam, é possível aprender a conectar os pontos para trazer respostas e soluções coerentes aos desafios da realidade.
Na prática este pode ser um entrave especialmente para os professores, que estão acostumados a lecionar apenas sua matéria de domínio. Dessa forma, ações como o Programa de Residência Pedagógica, anunciado pelo MEC, pretendem auxiliar na formação de professores para este novo olhar de ensino.
Competências Socioemocionais
A BNCC que contempla os Ensinos Infantil e Fundamental, já possui 4 entre as 10 competências exigidas, com foco em socioemocionais. Com a BNCC do Ensino Médio, que ainda está sendo reformulada, não deverá ser diferente. O que resta saber é exatamente qual será o direcionamento para as habilidades na adolescência.
Vale ressaltar que hoje nenhuma das 13 matérias da grade trabalha essas competências. Além disso, a própria formação técnica que será proposta em paralelo ao Ensino Médio também deverá se ajustar a este fator. O contexto de incerteza, também trazido pelo VUCA, ajuda a lembrar da importância de uma formação mais ampla a longo prazo, já que as profissões se remodelam a todo momento.
Conforme confirma Torres, do CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento): “É natural que uma indústria de açúcar e álcool queira gente capacitada. Mas e se ela fechar? Temos de pensar em uma formação que se conecta com o setor produtivo, mas que seja um aprendizado para a vida inteira. O mais importante é aprender temas como raciocínio lógico, trabalho em equipe e práticas de negociação. Essas são habilidades inerentes a qualquer profissão.”
E apesar das competências ligadas ao mercado de trabalho, não se pode negar o papel da escola rumo à uma educação mais sadia a níveis pessoais. Especialmente durante a adolescência, uma fase tão conturbada.
Seja devido aos hormônios, formação neurológica, pressões sociais ou distúrbios afetivos, os jovens precisam de mais apoio neste momento de suas vidas para que efetivem sua independência e descubram seu verdadeiro papel na sociedade.
Infelizmente, esses fatores negligenciados resultam em cada vez mais casos de depressão e ansiedade que despontam principalmente neste período. As competências socioemocionais os ajudarão a se desenvolver enquanto seres humanos completos muito mais preparados para a fase adulta como um todo e não apenas para o mercado de trabalho.
Dúvidas e o que falta para entrar em vigor
Desde o anúncio da Reforma no Ensino Médio, no início de 2017, muitos são os questionamentos sobre implementação e prazos das mudanças.
O primeiro passo é entender que a reforma depende da homologação do documento da BNCC do Ensino Médio que irá nortear os currículos das escolas.
Em Abril de 2018 o MEC entregou o documento da BNCC ao CNE (Conselho Nacional da Educação), para realizar os devidos ajustes de acordo com audiências públicas organizadas pelo Brasil ainda em 2018.
Entre as principais críticas sobre a BNCC entregue pelo MEC, está a falta de definições claras que nortearão estes novos caminhos. A pressão por um documento mais detalhado e viável, fez com que o Ministério da Educação decidisse alterar e ampliar a Base que foi considerada genérica por diversos membros da CNE e da sociedade.
O pronunciamento ocorreu em Julho de 2018 e ainda não se sabe o quanto isto pode atrasar a entrega do documento final.
Ainda assim, espera-se que logo após sua entrega os Conselhos Estaduais de Educação terão um ano para definir as normas complementares até 2019 e em 2020, as redes e escolas irão processar a implementação das mudanças para que até 2021 a reforma seja de fato implementada.
Além disso, a formação adequada de professores capacitados e mesmo a verba e estrutura destinadas para que as mudanças sejam efetivadas são pontos de constante atenção, mesmo com os anúncios de apoio por parte do governo.
O receio é de que as escolas menos privilegiadas não consigam atingir os objetivos por falta de estrutura e por isto a importância de uma Base mais clara e coerente.
É possível começar a mudar ?
Mesmo diante de certas flutuações entre mudanças sobre Novo Ensino Médio, é possível que as escolas comecem a se adaptar desde já. Afinal, a reforma já apontou alguns caminhos estruturais mencionados acima.
É importante entender que um Novo Ensino Médio reflete uma nova cultura de ensino-aprendizagem. Ainda que em forma de testes e adaptação, a aplicação de projetos multidisciplinares e a inserção de metodologias com foco em competências socioemocionais, por exemplo, podem começar a fazer parte dos currículos como um pontapé inicial.
Assim, conforme as diretrizes forem divulgadas através da BNCC e os prazos da mudança forem chegando, com certeza sua escola estará mais preparada e apta para se transformar!
2 Comentários. Deixe novo
Por favor, será que é possível dizer o nome da pessoa que escreveu esse texto e sua profissão? É que eu gostaria de mencioná-lo em um trabalho universitário, pois o achei muito bom! Porém, em forma simplesmente de blog ficaria inconveniente. É só para aprimorar a referência bibliográfica. Obrigado pela atenção.
Não gosto de parte desse documento, principalmente no que se refere a autonomia do aluno na escolha de seu aprendizado e também na nova divisão dos componentes curriculares.