O estudante no comando!
O estudante no comando! Ou, a importância do protagonismo dos estudantes.
Todo professor, toda professora, já foi aluno ou aluna um dia. E todos nós carregamos conosco a lembrança de uma professora ou um professor que fez a diferença. Aquela, ou aquele que nos inspirou de alguma forma, não é mesmo?
Quem passou pelos bancos escolares há mais de 20 anos costuma se lembrar, também, de algumas educadoras ou educadores que iam na direção contrária.
Era aquele tipo de professor ou professora que fazia perguntas apenas de forma retórica, porque não aguardava pela manifestação dos estudantes. Já entregava a resposta pronta, imediatamente. Muitas vezes, virava até piada entre os alunos e alunas.
Isso acontecia muito porque, até pouco tempo atrás, o estudante era visto como um sujeito passivo. Ou seja, alguém a quem caberia apenas receber o conhecimento que era trazido pelo educador.
Felizmente, esse conceito está se tornando obsoleto. Nas décadas mais recentes, vem ganhando espaço a ideia de que é preciso desenvolver o protagonismo das alunas e dos alunos. Esse princípio é tão presente que a própria Base Nacional Comum Curricular, a BNCC, cita a palavra protagonismo mais de 50 vezes em diferentes contextos.
No texto de hoje, vamos esclarecer o que é protagonismo do estudante, que importância a BNCC dá ao protagonismo do estudante, como ele influencia na dinâmica da relação de ensino e aprendizagem e como fazer esse desenvolvimento na prática. Para finalizar, apresentaremos quatro propostas práticas de dinâmicas que podem ser implementadas na sua rotina para estimular o protagonismo dos seus alunos e alunas.
Boa leitura.
O que é protagonismo do estudante
Por definição, o protagonismo só acontece quando a participação do estudante é estimulada em todas as etapas das ações e atividades propostas pela escola. Essa participação deve começar no planejamento e se estender até a avaliação.
Transpondo o conceito para o chão de sala de aula, o protagonismo é permitir que a aluna ou o aluno seja a personagem principal do processo de ensino e aprendizagem. Cabe à turma, em conjunto com a professora, ou o professor, decidir o planejamento das atividades, a execução das etapas e a avaliação do que foi ensinado.
Como diz a provocação que fizemos no título deste artigo, é o estudante no comando! Mas em conjunto com você.
É importante frisar isso. Promover o protagonismo do estudante não significa se submeter a ele. Nós, como adultos e educadores, continuamos gerenciando a sala, mas com a participação ativa da turma.
Para nós, que fomos formados num modelo que dava todo o poder à professora ou ao professor, pode parecer um pouco assustador. Mas é muito importante que possamos fazer essa transição. E o motivo é o assunto do próximo tópico.
A importância do protagonismo na BNCC
Da Educação Infantil ao Ensino Médio, a BNCC enfatiza a importância do desenvolvimento do protagonismo dos estudantes. Sem ele, a busca pelo desenvolvimento integral das alunas e alunos fica prejudicada.
A importância do protagonismo é ressaltada na Base quando se refere ao desenvolvimento de habilidades e competências, nas diferentes áreas do conhecimento, e também em relação à vida pessoal e coletiva dos estudantes.
Isso acontece porque estudos acadêmicos no campo da psicologia cognitiva mostram que estudantes aprendem de 70% a 80% do conteúdo em atividades em que lhes permitem debater, argumentar, contra-argumentar, elaborar e reelaborar suas ideias.
Em contraposição, em aulas meramente expositivas – em que a aluna ou o aluno apenas lê, ouve e enxerga o conteúdo –, esses índices variam entre 10 e 50%.
Estamos falando aqui da Pirâmide de Glasser, que não deve ser nova para você. Se quiser saber mais sobre ela, consulte este outro post do Educador 360
Ou seja, não há como fugir do desenvolvimento do papel ativo do aluno ou da aluna na própria aprendizagem. Cabe a nós, educadoras e educadores, encontrar as melhores ações para proporcionar essa participação.
Como o protagonismo influencia na dinâmica da relação de ensino e aprendizagem
A busca pelo desenvolvimento do protagonismo do estudante vira de pernas para o ar a relação clássica de ensino e aprendizagem.
Isso significa que o professor, ou professora, precisa descer do pedestal de detentor do conhecimento, que lhe dá todo o poder na relação com as alunas e alunos.
Ele, ou ela, deve ampliar a participação das alunas e alunos na formulação das atividades e isso fatalmente levará a uma atuação mais abrangente e interdisciplinar, que quebrará a fragmentação dos conhecimentos, algo que ocorria no modelo tradicional.
Ou seja, a professora, ou professor, terá de trabalhar em conjunto com a turma e com colegas de outros componentes curriculares.
Como desenvolver o protagonismo na prática
Trabalhar em sala de aula de maneira a desenvolver o protagonismo do estudante requer uma mudança profunda de atitude.
Um primeiro passo é praticar a escuta ativa. Você precisará estar pronta, ou pronto, para ouvir as ideias trazidas pela turma, respeitando as colocações e garantindo o direito de manifestação a todos, sem medo de errar.
No dia a dia, essa postura se materializa por meio de uma dinâmica mais democrática de gestão da sala de aula. Para exemplificar, trazemos 4 dicas práticas de dinâmicas que tornam o ambiente da sua sala de aula mais propício ao desenvolvimento do protagonismo do estudante.
- Planejamento do dia – Mais comum na Educação Infantil, essa prática pode ser estendida aos demais anos da escolarização básica. Trata-se da prática de discutir em conjunto para estabelecer a rotina do dia, quais propostas serão trabalhadas no dia e em que ordem elas serão executadas.
- Projeto Individual – A ideia é abrir ao estudante, ou à estudante, a possibilidade de escolher um tema de interesse dele, ou dela, para pesquisa autônoma e realização de um trabalho que será apresentado à toda turma. O papel do professor, ou professora, é orientar a pesquisa em reuniões individuais semanais em que ele, ou ela, ouve o que foi produzido pela aluna, ou pelo aluno, e faz novas perguntas que ajudam a orientar a criança ou jovem para um resultado esperado.
- Assembleias – Podem acontecer periodicamente, para estimular a reflexão do grupo sobre as dinâmicas de relacionamento, não apenas entre estudantes, mas também deles com os educadores e educadoras. A ideia é estimular os estudantes a se pronunciarem sobre eventuais incômodos e propor o debate respeitoso de ideias em busca de soluções coletivas para os problemas trazidos para a assembleia.
Avaliação do dia – No encerramento do dia letivo, abra um momento para organizar uma roda de conversa e estimular alunas e alunos a avaliarem o deu certo e o que poderia ter sido melhor, entre as atividades realizadas no dia. Essa prática permite que os próprios estudantes reflitam sobre a eficiência de dinâmicas propostas por eles mesmos no planejamento.