Falta professor no novo Ensino Médio.
Apesar dos louváveis esforços da reforma para tornar a educação mais significativa para jovens e adultos, o Novo Ensino Médio chegou às escolas sofrendo de um velho problema na educação pública: a falta de professores.
De acordo com um estudo liderado pela Rede Escola Pública e Universidade, a Repu, o problema maior está sendo verificado justamente nos chamados Itinerários Formativos, o grande diferencial do Novo Ensino Médio.
Do total de aulas que deveriam ser ofertadas nessa modalidade, onde o aluno escolhe o percurso que quer trilhar e o que pretende aprender, 22,1% continuavam sem um professor atribuído ao final do primeiro bimestre.
Os dados se referem à Rede Pública Estadual de São Paulo. Ao jornal Folha de S. Paulo, a Secretaria de Educação afirmou que, em maio, esse percentual foi reduzido para 17%.
Ainda assim, seria o equivalente a quase um dia a menos de aula por semana.
Compensação
A falta de professores foi constatada nas aulas dos itinerários formativos do 2º ano do Ensino Médio. De acordo com o cronograma de implementação da reforma, esse itinerário só começará a ser oferecido no 3º ano em 2023.
A ausência de docentes estaria sendo compensada com a oferta de conteúdo gravado do Centro de Mídias. Os alunos não estão ficando fora das escolas, de acordo com a Secretaria de Educação. O conteúdo gravado é transmitido em sala de aula e as turmas acompanham com a presença de um educador da escola.
Ensino integral
Além da novidade dos itinerários formativos, a falta de professores se deve, igualmente, ao esforço do governo estadual paulista para ampliar o Programa Ensino Integral.
Segundo a Secretaria de Educação, desde 2019 o número de escolas que oferecem tempo integral aos alunos subiu de 364 para 2.050.
Tanto o PEI quanto a reforma do Ensino Médio ampliam a carga horária letiva. Isso teria gerado escassez de educadores. A Secretaria informou ter aberto contratação temporária de educadores e que pretende zerar esse déficit em breve.
Desigualdade
O estudo da Repu trouxe ainda outro dado preocupante: a possibilidade de escolha de cursos pelos alunos na rede estadual paulista é restrita e desigual.
Alunos com melhor nível socioeconômico estariam tendo mais opções do que aqueles em situação de maior vulnerabilidade.
Para balizar o processo de escolha, a Secretaria da Educação promoveu enquete virtual em 2021. Os alunos do então 1º ano do Ensino Médio podiam escolher 6 entre 35 opções disponíveis.
As opções colocadas estavam divididas da seguinte forma:
- 4 eram de cada uma das áreas de conhecimento;
- 6 pertenciam às chamadas áreas integradas;
- 4 estavam em áreas combinadas a cursos profissionais de curta duração; e
- 21 eram cursos profissionalizantes mais longos.
Na prática, porém, número amplo de opções não se concretizou.
O estudo usou dados do próprio Estado para mostrar que 37% das escolas estaduais paulistas oferecem em 2022 só dois itinerários, o mínimo exigido por lei.
Entre essas escolas, mais de 70% se limitam a disponibilizar um itinerário em linguagem e ciências humanas e outro em matemática e ciências da natureza.
As demais possibilidades não foram implementadas.
Em 37 unidades escolares estaduais, nem o limite mínimo legal foi atingido e apenas um itinerário formativo é oferecido. Dessas escolas, 26 são unidades localizadas dentro da Fundação Casa, que abriga menores infratores.
A Secretaria de Educação afirma que, em geral, essas unidades têm turmas pequenas e quando todos os alunos optam por um mesmo itinerário, apenas esse é implementado.
Nível socioeconômico
Apenas 2,7% das escolas oferecem mais de 6 itinerários formativos.
Ao cruzar os dados de oferta com o perfil socioeconômico dos alunos declarado no Saresp, os pesquisadores constataram que unidades onde as famílias dos alunos têm maior escolarização e melhor nível de renda tendem a ter mais opções de itinerários formativos.
Nas escolas com seis itinerários formativos, por exemplo, 46,6% dos estudantes têm renda familiar de mais de dois salários mínimos. Nas escolas com apenas 2 itinerários, esse percentual é de 37,4%.
A Secretaria de Educação disse estar analisando esse dado para entendê-lo melhor, mas atribui a menor oferta de itinerários formativos ao tamanho reduzido das turmas. Ou seja, escolas com menos alunos tendem a ter poucos itinerários porque os jovens optam pelos mesmos percursos.
Autores
O estudo da Repu, divulgado no início de junho de 2022, é assinado por três pesquisadores: Ana Paula Corti, do Instituto Federal de São Paulo, Débora Goulart, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e Fernando Cássio, da UFABC (Universidade Federal do ABC).
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