Como promover a educação climática
Como promover a educação climática.
Enormes glaciares em derretimento nos polos; secas extremas em continentes inteiros como a Europa e a América do Norte; ondas de calor e incêndios em regiões tradicionalmente frias como a Sibéria; chuvas torrenciais que matam e provocam destruição extrema, como as ocorridas em São Sebastião no início de 2023…
A cada ano que passa, as cenas trágicas de eventos climáticos extremos se repetem e se tornam mais frequentes. E as populações que mais sofrem as consequências das mudanças climáticas são aquelas tradicionalmente mais vulneráveis do ponto de vista social e econômico.
Embora a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) não seja muito detalhada em termos de Educação Climática, é nosso papel como educadores e educadoras liderar o movimento para incluir o tema socioambiental na escola.
No texto de hoje, vamos falar sobre o que diz a BNCC sobre a educação para a mudança climática, por que a educação climática na escola é fundamental, e como a educação climática se insere em cada etapa da escolarização básica.
De quebra, deixaremos um link onde você pode se cadastrar para receber informações sobre novas turmas de um curso gratuito promovido pelos institutos Alana e Singularidades que se propõe a formar educadores para levar a natureza para dentro da sala de aula.
Boa leitura!
O que diz a BNCC sobre a educação climática
Embora seja o documento mais atual do Ministério da Educação (MEC) para balizar a construção de currículos em todo o Brasil, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é bastante econômica no que diz respeito à incorporação da Educação Climática nas escolas.
Em quase 600 páginas do documento, o termo “climática” só aparece 6 vezes. A primeira delas nas habilidades específicas de Ciências do 8º ano, onde a habilidade sob o código EF08CI16 preconiza: “Discutir iniciativas que contribuam para restabelecer o equilíbrio ambiental a partir da identificação de alterações climáticas regionais e globais provocadas pela intervenção humana.”
Nas unidades temáticas de Geografia do 6º ano, o termo volta a aparecer num dos objetos de conhecimento de Natureza, ambientes e qualidade de vida: “Atividades humanas e dinâmica climática”.
A habilidade específica EF06GE13 traz a terceira ocorrência do tema: “Analisar consequências, vantagens e desvantagens das práticas humanas na dinâmica climática (ilha de calor etc.).”
O termo volta a aparecer mais duas vezes de forma genérica na descrição da Área de Ciências e suas Tecnologias do Ensino Médio, e finalmente faz uma última aparição na descrição da Competência 2 dessa mesma área no Ensino Médio, que prega: “Analisar e utilizar interpretações sobre a dinâmica da Vida, da Terra e do Cosmos para elaborar argumentos, realizar previsões sobre o funcionamento e a evolução dos seres vivos e do Universo, e fundamentar e defender decisões éticas e responsáveis.”
Como se vê, sob o ponto de vista da BNCC, a Educação Climática se dá apenas de forma compartimentalizada em algumas disciplinas a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental.
Essa é uma questão problemática, na visão dos especialistas.
O despertar da consciência ambiental nos futuros cidadãos deve iniciar desde a Educação Infantil, principalmente num cenário em que a imensa maioria dos estudantes está inserida num ambiente urbano, portanto distante e desconectada da natureza.
Por que a Educação Climática é Fundamental
Até 20 anos atrás, todo o discurso sobre a necessidade de uma educação para a preservação ambiental se ancorava nos prejuízos que seriam causados às gerações futuras, caso não fossemos capazes de viver de maneira mais sustentável no planeta Terra.
Esse discurso está ultrapassado. As consequências das mudanças climáticas deixaram de ser um problema futuro. Elas podem ser sentidas já hoje, especialmente para as populações em situação de maior vulnerabilidade. E só tendem a se agravar.
Nesse contexto de extrema injustiça climática, é fundamental que a Escola desenvolva um olhar interdisciplinar e sistêmico, que aborde as diferentes dimensões impactadas pelas mudanças climáticas, que obviamente não se restringem ao impacto ambiental.
Em outras palavras, uma Educação Climática consistente não pode se restringir ao que preconiza a BNCC, que basicamente se ancora na simples compreensão dos processos físicos e dos desdobramentos ambientais do aumento da temperatura média do planeta.
Para que realmente desperte a consciência ambiental planetária, a Educação Climática precisa trazer embutida a noção de que estamos tratando de uma questão social.
A mudança climática está intimamente ligada ao que somos, ao que pensamos e ao que fazemos nas diferentes esferas sociais e econômicas.
Dentro dessa visão, é nosso papel como educadores e educadoras empoderar e engajar as novas gerações para a ação climática. Estamos falando, aqui, de uma educação que constrói novos conhecimentos contextualizados e significativos. Uma educação transformadora, não apenas da vida das estudantes e dos estudantes, mas de toda a comunidade.
A Educação Climática, por etapa da Educação Básica
A seguir apresentamos, em linhas mais gerais, algumas exposições sobre como a sua escola pode iniciar a Educação Ambiental em cada etapa da escolarização básica.
- Educação Infantil – Num dos momentos mais importante do desenvolvimento humano, que ocorre de 0 a 6 anos, a Educação Climática se estabelece por meio do encantamento e de conexões afetivas. Em dinâmicas preferencialmente fora da sala de aula, a ideia é nutrir continuamente o vínculo com a natureza, de que crescemos afastados e desconectados demais nos ambientes urbanos. Algumas ideias de atividades envolvem o plantio e manutenção de pequenas hortas, passeios em parques, campanhas de plantio de mudas para reflorestamento de áreas degradadas, por exemplo. O objetivo principal, aqui, é a partir das vivências, do cuidado, da observação, experimentação e exploração, permitir que a criança crie vínculos duradouros com a natureza.
- Ensino Fundamental 1 – Às experiências iniciadas na Educação Infantil, a escola deve dar maior amplitude e complexidade a partir dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Além de viver e observar, as crianças passam a analisar e tecer questionamentos. Essa transição vai permitir que alunos e alunas comecem a construir relações de causa e efeito em relação a diferentes problemas ambientais enfrentados pela humanidade.
- Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio – As duas etapas cobertas pela BNCC em relação ao ensino das questões climáticas têm semelhanças por estarem organizadas em cima da divisão do conhecimento por disciplinas, com intensificação dos conteúdos apresentados. Nessas duas etapas, sempre considerando uma escalada das ações à medida em que o estudante e a estudante avançam, o corpo pedagógico deve investir na construção de práticas e projetos investigativos, com maior imersão e reflexão. Além do campo da Ciência, que a BNCC elege como principal para a Educação Climática, é importante incluir outras áreas do conhecimento, sempre levando em consideração o contexto da comunidade em que a escola está inserida. O objetivo é despertar o protagonismo dos jovens em relação ao tema e às ações climáticas.
Curso para levar a natureza para a escola
Se você se sentiu chamado ou chamada para promover a inclusão da Educação Climática sua escola, mas não sabe por onde começar, saiba que existem experiências inspiradoras que podem ajudar a engajar a sua escola.
Uma dessas iniciativas é o movimento Escolas Pelo Clima, criado em 2020. Com 600 escolas participantes, em todas as regiões do Brasil e em Portugal, o EPC promove formações especializadas, trocas de experiências entre educadores e eventos com especialistas. Clique no link e conheça mais sobre o EPC.
Finalmente, deixamos aqui um link para mais informações sobre um curso online gratuito, que forma educadores para levar a natureza para dentro da escola. Concebido pelos institutos Alana e Singularidades, o curso aguarda a formação de novas turmas. Cadastre-se aqui para ser informado quando as novas turmas forem abertas.