Covid, educação e geração de renda.
No início da pandemia de Covd-19 no Brasil, em 2020, ninguém parecia duvidar da necessidade de fechamento das escolas. No entanto, à medida em que a pandemia se prolongava, começaram a surgir os primeiros críticos dessa medida.
As grandes questões eram: Qual será o custo na aprendizagem das crianças? Como lidaremos com as perdas? Qual o efeito futuro para essas crianças?
Agora, no mesmo momento em que o Brasil suspende a emergência para enfrentamento da Covid-19 e os números apontam para um novo aumento de casos, os efeitos do fechamento das escolas para o futuro das crianças começam a ser mensurados.
Estudo do FMI
Segundo um estudo divulgado no último dia 17 de maio (2022) pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI, os impactos da pandemia na educação não têm precedentes na história mundial.
Inegavelmente, seus efeitos na economia, na desigualdade e na renda da população, segundo o relatório, serão sentidos por décadas.
O levantamento analisou os efeitos sobre os países integrantes do G20. Conforme ele, 1,6 bilhão de estudantes em todo o mundo foram afetados pelo fechamento de escolas apenas em 2020 e 2021.
Em todos os países pesquisados, os alunos sofreram perdas. Sobretudo, em alguns desses países, já começaram a observar queda de rendimento nos testes de desempenho.
Outros dois efeitos notados foram o aumento da evasão escolar e a queda no número de matrículas.
Renda e desigualdade
O FMI afirma que os estudantes afetados pelos dois anos de fechamento das escolas representarão 40% da população economicamente ativa nos países integrantes do G20 nas próximas décadas. Com menor qualificação, eles tendem a sofrer redução na capacidade de gerar renda.
Um efeito da queda na qualificação dos estudantes, segundo o FMI, pode ser o crescimento da informalidade. Como as famílias mais pobres sofreram as maiores perdas de qualidade na educação, a desigualdade social tende a aumentar no mundo.
Efeitos no G20
A diminuição de renda para os estudantes afetados pela pandemia foi projetada pelo FMI em todas as economias do G20.
Houve perda em todos os países, o que mostra a importância da educação de qualidade em qualquer economia, seja de países desenvolvidos, seja de nações em desenvolvimento.
As perdas, contudo, foram relativamente maiores nas economias em desenvolvimento. Entre os países considerados ricos, a Coreia do Sul é o que registra a maior queda de renda projetada, com índice de -7%.
Entre as economias em desenvolvimento, esse percentual sofre uma elevação de 40%. No México, que tem a maior queda de renda projetada, o percentual é de -9,9%.
O Brasil
As projeções para o Brasil também são preocupantes. Segundo o relatório, os futuros trabalhadores brasileiros atingidos pelo fechamento das escolas terão uma queda de 9% em seus rendimentos.
O resultado colocou o Brasil no terceiro lugar entre os países em desenvolvimento com pior desempenho. Ficou acima apenas de México (-9,9%) e Indonésia (-9,7%).
Isso acontece porque, entre o grupo avaliado, o Brasil foi um dos países que manteve suas escolas fechadas por mais tempo. Especialmente, as escolas públicas.
Segundo um outro relatório da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), lançado em setembro de 2021, o Brasil foi o país que mais tempo ficou com as escolas totalmente fechadas ao longo de 2020.
Considerando apenas a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, as escolas brasileiras passaram 178 dias fechadas naquele ano, contra média de 48 dias nos demais países pesquisados.
Recuperação de aprendizagens
O estudo do FMI ressalta que o cenário projetado só se concretizará se nada for feito para promover a recuperação da aprendizagem dos estudantes afetados pela pandemia: “Se não for abordado, o consequente impacto no capital humano reduzirá os níveis de qualificação e a produção agregada nas próximas décadas —com maior desigualdade”.
Em outras palavras, esse cenário pode ser evitado.
Para que isso aconteça, porém, é preciso que os países ataquem o problema com políticas públicas que promovam a recuperação das aprendizagens dos alunos.
Cada professor e cada professora, em sala de aula, pode contribuir nesse esforço. Sozinhos, porém, educadores e educadoras não poderão reverter o cenário. São necessários esforços institucionais para promover aulas de reforço no contraturno, políticas de incentivo à permanência na escola e de atração dos alunos que abandonaram os estudos.
Esforço conjunto
Nós já sabemos que os estudantes da Era da Pandemia foram afetados pelo fechamento das escolas. O que não podemos aceitar é que eles sejam considerados uma geração perdida, da qual todos desistem.
A recuperação das aprendizagens é possível, desde que haja um esforço conjunto da sociedade, de educadores e educadoras, e de governos na direção de transformar esse cenário.
Precisamos acreditar que a recuperação é possível e precisamos nos engajar para que ela aconteça.
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