Geração Z e inteligência emocional: como a escola pode ajudar
Nas últimas décadas, a sociedade tem presenciado uma revolução tecnológica sem precedentes. Vivemos a era do imediatismo: respostas rápidas, conexões constantes e uma avalanche de estímulos. Paradoxalmente, as novas gerações, que deveriam ser as mais beneficiadas por esse avanço, têm demonstrado níveis alarmantes de ansiedade e carência de inteligência emocional. Entre elas, a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) parece ser a mais impactada.
Segundo uma pesquisa da consultoria internacional McKinsey, realizada ao longo da pandemia, jovens entre 16 e 24 anos apresentaram os piores índices de bem-estar emocional entre todas as gerações avaliadas. O impacto foi tão significativo que motivou um alerta de saúde pública do cirurgião norte-americano Vivek Murthy. A pergunta que não quer calar é: como chegamos até aqui e o que a escola pode fazer a respeito?
Educação permissiva e o enfraquecimento emocional
Embora a intenção de proteger emocionalmente os filhos seja legítima, a educação permissiva pode, sem querer, gerar o efeito oposto. A ausência de limites claros compromete o desenvolvimento de habilidades como frustração, autocontrole e disciplina. Crianças que crescem sem escutar “não” ou que têm suas vontades sempre atendidas tendem a desenvolver expectativas irreais sobre o mundo. Ao se depararem com dificuldades reais — e inevitáveis — da vida adulta, entram em colapso.
Além disso, a dificuldade em aceitar críticas e a escassez de interações que demandam negociação e empatia podem comprometer as relações interpessoais. O resultado? Jovens emocionalmente frágeis, dependentes e inseguros.
O impacto do uso excessivo da tecnologia
O uso desenfreado de celulares e redes sociais potencializa ainda mais esse quadro. A comparação constante com vidas idealizadas, o isolamento social mascarado de “conexão” e a ativação contínua do sistema de recompensa cerebral criam uma geração que busca validação imediata e tem dificuldade em tolerar a frustração.
Outro fator preocupante é o comprometimento do sono, principalmente pelo uso de telas antes de dormir. A privação do descanso adequado agrava quadros de ansiedade e prejudica a regulação emocional.
É nesse ponto que o trabalho escolar pode — e deve — atuar como uma âncora para a saúde mental das novas gerações.
O papel da escola na promoção da inteligência emocional
As escolas não são apenas espaços de transmissão de conhecimento acadêmico. São, sobretudo, ambientes de construção humana. E é justamente nesse campo que entram as habilidades socioemocionais.
Veja abaixo algumas práticas que podem (e devem) ser adotadas:
- Educação emocional no currículo: trabalhar com projetos e atividades que desenvolvam empatia, escuta ativa, reconhecimento de emoções e autorregulação. Ferramentas como as do Programa MenteInovadora, da Mind Lab, contribuem para que os estudantes aprendam a tomar decisões e resolver conflitos de maneira reflexiva.
- Ambiente seguro e acolhedor: escolas precisam garantir que todos os alunos se sintam escutados e respeitados. Isso passa pela atuação ativa contra o bullying, pela valorização das diferenças e pela criação de espaços de escuta e diálogo.
- Exemplo dos adultos: professores e gestores escolares são modelos vivos. A maneira como lidam com frustrações, mediam conflitos e expressam sentimentos influencia diretamente os alunos.
- Apoio psicológico e orientação educacional: contar com profissionais da psicologia e da orientação pedagógica é essencial. Eles atuam na prevenção e no suporte individualizado, contribuindo para o bem-estar coletivo.
- Fortalecimento das relações: atividades em grupo, rodas de conversa, projetos interséries e ações colaborativas são oportunidades para que os estudantes pratiquem empatia, cooperação e comunicação assertiva.
- Formação continuada dos educadores: os professores precisam ser capacitados para lidar com os desafios emocionais contemporâneos. Investir em formação é investir na saúde integral da escola.
- Envolvimento das famílias: a parceria escola-família é decisiva. Oferecer oficinas e materiais de apoio para os responsáveis amplia a rede de suporte emocional das crianças e jovens.
O esporte como aliado da inteligência emocional
O esporte é um território fértil para o desenvolvimento de competências emocionais. Ensina a lidar com vitórias e derrotas, promove o respeito às regras, fortalece o trabalho em equipe e desenvolve a resiliência.
Atividades físicas regulares também contribuem para a redução da ansiedade e da depressão, além de melhorar o desempenho escolar. Escolas que valorizam práticas esportivas não apenas cuidam do corpo, mas também da mente.
Promover inteligência emocional é, antes de tudo, um compromisso com o futuro. A geração Z precisa — e merece — ser acolhida com estratégias que respeitem suas dores, mas também ampliem sua capacidade de enfrentar os desafios da vida com autonomia, equilíbrio e propósito.
A escola pode ser esse lugar de transformação. Com práticas consistentes, apoio técnico e uma comunidade engajada, é possível cultivar uma nova cultura emocional, mais saudável e sustentável. Para isso, é essencial manter o diálogo aberto e constante entre educadores, famílias e estudantes.