O papel do professor frente aos desafios on-line perigosos
Um dos grandes desafios da educação contemporânea é enfrentar os perigos que surgem no universo on-line. A morte recente de uma menina de oito anos após inalar desodorante aerossol para cumprir um desafio virtual escancarou a urgência desse debate. Casos como esse não são isolados: segundo o Instituto DimiCuida, ao menos 56 crianças e adolescentes se feriram gravemente ou perderam a vida entre 2014 e 2025 por causa de desafioson-line.
Nesse cenário, a escola não pode se omitir. Ao contrário, professores e educadores devem atuar como agentes de prevenção, acolhimento e formação crítica. Mas como fazer isso sem soar autoritário, sem demonizar a internet ou assustar desnecessariamente os alunos?
1. Abordar o tema com escuta ativa e empatia
Antes de tudo, é fundamental criar um ambiente de confiança. Falar sobre desafios on-lineem sala de aula exige escuta e abertura. Uma boa prática é começar com perguntas: “Você já viu algum vídeo de desafio na internet?”, “Parece divertido? Você acha perigoso?”. A ideia não é censurar, mas entender o que os alunos conhecem e pensam.
A escuta ativa permite identificar crenças distorcidas, como “é só uma brincadeira”, e abrir espaço para reflexão. Mais do que dar respostas prontas, o educador precisa cultivar o pensamento crítico – habilidade diretamente relacionada à proposta do Programa MenteInovadora, da Mind Lab, que trabalha com jogos pedagógicos para desenvolver a capacidade de analisar, argumentar e decidir de forma ética.
2. Ensinar pensamento crítico digital como parte do currículo
Assim como se ensina matemática ou ciências, o letramento digital precisa fazer parte do cotidiano escolar. Trabalhar temas como segurança on-line, privacidade, fake news e pressão dos pares é tão importante quanto ensinar a tabuada.
Iniciativas como oficinas de mídias digitais, rodas de conversa sobre desafios on-line perigosos ou projetos interdisciplinares envolvendo ética, tecnologia e saúde podem ser extremamente eficazes. O objetivo é ajudar os alunos a identificar riscos e a resistir à influência negativa de modas virais.
3. Criar redes de apoio com famílias e equipe escolar
Nenhum professor educa sozinho. É essencial envolver toda a comunidade escolar nesse cuidado. Promover encontros com famílias para discutir o tema, compartilhar alertas da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e criar canais de escuta com apoio da equipe de orientação e psicologia escolar fortalece a rede de proteção.
Um ponto central é alinhar o discurso: enquanto os pais são chamados a supervisionar, os professores devem ajudar a ampliar a percepção dos estudantes sobre o que é ou não seguro. Ambos devem valorizar o diálogo contínuo como ferramenta de prevenção.
4. Observar mudanças comportamentais com atenção pedagógica
O educador está numa posição privilegiada para notar sinais sutis: queda no rendimento, isolamento repentino, piadas com temas mórbidos, imitação de gestos vistos em vídeos. Esses sinais podem indicar exposição a conteúdos perigosos.
Nesses casos, encaminhar para a equipe de apoio ou abrir uma conversa acolhedora pode ser decisivo. Importante lembrar: a maioria dos alunos não busca desafios de risco por malícia, mas por pertencimento, curiosidade ou baixa autoestima. A escola precisa ser o espaço que valida sem expor, acolhe sem julgar.
5. Incentivar a produção de conteúdo positivo
Ao invés de apenas coibir, por que não inspirar? Incentive os alunos a criarem vídeos e campanhas que promovam segurança on-line, empatia e pensamento crítico. Essa estratégia fortalece o protagonismo juvenil e oferece modelos de comportamento saudáveis.
A internet é um território vasto e, muitas vezes, sem lei. Como lembrou a professora Leila Tardivo, da USP: “não deixaríamos nossos filhos sozinhos num beco escuro – então por que deixá-los navegar sozinhos por conteúdos desconhecidos?”
Educar para proteger é mais do que ensinar. É cuidar, guiar e preparar os alunos para fazerem boas escolhas – no mundo físico e no digital.