Educação Socioemocional favorece a inclusão na escola
O termo inclusão é relativamente novo no mundo, de forma geral, e em especial no Brasil. Afinal, faz apenas 20 anos que o Ministério da Educação (MEC) implementou o “Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade”. O programa tinha por objetivo formar gestoras e gestores, professoras e professores, para garantir a todas e todos “o acesso à escolarização, à oferta de atendimento educacional especializado e à garantia da acessibilidade”.
Desde então, cada vez mais educadoras e educadores tiveram de aprender a lidar com a inclusão de todo tipo de diversidade em suas salas de aula. Aprendizado esse que, muitas vezes, se deu na prática, no dia a dia do chão da escola.
Felizmente, a partir da segunda década dos anos 2000, professoras e professores ganharam um grande aliado para promover a inclusão em suas turmas: o impulso ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais. Rapidamente ficou comprovado que todos os estudantes e todas as estudantes ganham com a inclusão da diversidade.
No nosso texto de hoje, vamos abordar:
- A evolução da Educação Inclusiva no Brasil;
- Os efeitos da Educação Inclusiva sobre o desempenho das alunas e alunos;
- Os desafios para transformar a escola num ambiente inclusivo; e
- Como as habilidades socioemocinais ajudam no processo de inclusão;
De quebra, ainda vamos indicar no final do texto links para estudos e artigos acadêmicos sobre Educação Inclusiva que podem ajudar no desenvolvimento da equipe escolar.
Boa leitura.
A educação inclusiva no Brasil
A Conferência Mundial de Educação Especial, em 1994, é considerada o marco oficial do início da educação inclusiva no mundo. Promovido pelo governo espanhol em colaboração com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o encontro reuniu representantes de 88 países e 25 organizações internacionais.
O documento resultante do encontro ficou conhecido como Declaração de Salamanca e Marco de Ação sobre necessidades educativas especiais. Ele estabeleceu diretrizes básicas para a formulação de políticas e reforma dos sistemas educacionais para promover a inclusão social.
A partir daí, o Brasil começa a estabelecer novas diretrizes educacionais para a inclusão. Ao longo dos últimos anos, o salto no atendimento foi extraordinário, como comprova o gráfico a seguir.
Efeitos sobre o desempenho
Uma ideia comumente difundida diz que a inclusão social é boa para alunas e alunos com algum tipo de deficiência. O aspecto supostamente negativo oculto nessa afirmação é o de que estudantes sem deficiência poderiam ser prejudicados em seu rendimento escolar.
Essa é uma ideia absolutamente falsa.
Hoje já se sabe que os efeitos benéficos da Educação Inclusiva se estendem a todas e todos da turma. Entre os benefícios estão o desenvolvimento social, emocional e intelectual.
Em 2016, um estudo promovido pela Escola de Educação de Harvard comprovou esses benefícios. Coordenada pelo professor Thomas Hehir, a análise compilou dados de 85 estudos referenciados em 280 artigos publicados em 25 países.
Veja o que aponta a pesquisa, em um de seus trechos, sobre os efeitos para os alunos com deficiência:
“A magnitude dos benefícios da educação inclusiva pode variar de um estudo para outro, mas a grande maioria reporta benefícios significativos para os alunos que são escolarizados ao lado de seus pares sem deficiência — ou, na pior das hipóteses, não mostra diferenças entre os estudantes incluídos e não incluídos.”
Ou seja, a inclusão em salas de aula regulares não traz prejuízos para os alunos com deficiência. Mas, e os alunos sem deficiência? Como são afetados?
Outro estudo, realizado em 2007 na Universidade de Manchester, na Inglaterra, demonstrou que a Educação Inclusiva provoca melhora ou, na pior das hipóteses, não altera o desempenho dos alunos sem deficiência.
A pesquisa inglesa se baseou em 26 estudos publicados nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Irlanda. Ela concluiu que 81% dos alunos sem deficiência que estudam em turmas inclusivas tiveram melhora ou mantiveram estável o seu desempenho acadêmico.
Além das questões acadêmicas, a possibilidade de estudar em turmas inclusivas gera adultos menos preconceituosos e mais abertos a conviver com a diversidade.
Desafios para tornar uma escola inclusiva
A tarefa de transformar a escola num ambiente inclusivo, obviamente, não se limita a colocar lado a lado estudantes com e sem deficiência. É necessário que ocorra na instituição, como um todo, uma transformação na atuação pedagógica.
Para que os benefícios sejam alcançados para todos e todas, a prática pedagógica precisa se pautar pelo diagnóstico e identificação dos pontos fortes e fracos de cada aluno ou aluna, com ou sem deficiência.
Uma pesquisa de 2014 realizada no Brasil pela coordenada Maria Teresa Eglér Mantoan, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostrou que:
“Os professores da sala de aula mudaram algumas de suas práticas, passaram a fazer descobertas importantes e sentiram seu trabalho mais valorizado, ao reconhecerem o potencial de cada estudante”
Intitulado “A escola e suas transform(ações) a partir da educação especial na perspectiva inclusiva”, o estudo ouviu 357 pessoas entre diretores e diretoras, coordenadores e coordenadoras pedagógicos(as), professores e professoras, tanto de salas de aula comum, quanto do Atendimento Educacional Especializado (AEE), além de pais, mães ou responsáveis. O universo pesquisado abrangeu 96 escolas de 48 municípios integrantes do Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade”.
O principal desafio para estender os benefícios a todos é garantir uma boa gestão da sala de aula inclusiva, que pressupõem flexibilidade nas estratégias de ensino e nos objetivos de aprendizagem, e trabalho em conjunto entre professores e professoras de educação geral e especial.
Como as habilidades socioemocionais ajudam
O desenvolvimento de habilidades socioemocionais é um grande aliado na construção de um ambiente escolar inclusivo. Isso acontece porque entre as habilidades desenvolvidas estão alguns dos pilares necessários para a construção das relações entre alunos e alunas com e sem deficiência:
- Autoconhecimento – permite que os alunos e alunas identifiquem suas emoções e sentimentos em relação ao próximo e aprendam a lidar com eles.
- Socialização – amplia a capacidade de interação no grupo a partir do desenvolvimento das habilidades de comunicação e da compreensão do papel que ele ou ela desempenha na turma.
- Empatia – a capacidade de se colocar no lugar do outro e entender suas dores e necessidades amplia o fortalecimento dos vínculos.
- Trabalho em equipe – a criança ou jovem aprende a atuar colaborativamente, valorizando e reconhecendo as qualidades e habilidades de cada um de seus pares e unindo essas fortalezas na busca dos objetivos do grupo.
- Respeito à diversidade – a habilidade de reconhecer e conviver de maneira positiva com a diversidade ajuda no desenvolvimento do respeito e na redução dos preconceitos.
Como você pode ver, a presença de um programa de educação socioemocional bem estruturado amplia as chances da escola alcançar maior sucesso em suas práticas inclusivas.
Para saber mais
Se você ficou interessada(o) em se aprofundar mais sobre o tema, confira a seguir os links para artigos e estudos que selecionamos para você:
Em inglês:
1 Comentário. Deixe novo
Amo esse trabalho da inclusão. Vivo pra isso . Trabalho com crianças com deficiência,pena que muitos professores ignoram essas crianças. E as deixas por conta da gente