A série Adolescência em sala de aula
Com apenas quatro episódios, a minissérie Adolescência, da Netflix, abriu um campo fértil para debates dentro e fora da escola. A trama, que envolve um crime brutal cometido por um adolescente de 13 anos, vai muito além da investigação policial: ela desnuda questões profundas sobre a ausência de vínculos familiares, a violência normalizada entre jovens e os perigos da cultura digital sem mediação adulta.
Como profissionais da educação, somos interpelados por narrativas como essa. E é natural que nos perguntemos: como trazer esse conteúdo para sala de aula de forma crítica, ética e construtiva?
A resposta passa por planejamento, sensibilidade e intencionalidade pedagógica.
Por que discutir a série Adolescência na escola?
Segundo a consultora educacional e palestrante Bete P. Rodrigues, “a escola é, muitas vezes, o espaço onde os alunos conseguem falar sobre o que sentem. E a série toca justamente em pontos sensíveis: falta de empatia, isolamento emocional, influência das redes sociais, masculinidade tóxica, baixa autoestima, teoria 80/20, discurso de ódio e cultura incel.”
Ao trazer esse conteúdo para o cotidiano escolar, o educador amplia o repertório dos alunos, estimula o pensamento crítico e abre espaço para que eles falem de si, de suas vivências e angústias. Isso é ainda mais potente quando o trabalho é feito em parceria com a orientação educacional e com o apoio de metodologias socioemocionais como o Programa MenteInovadora, da Mind Lab, que oferece ferramentas para desenvolver empatia, diálogo e reflexão em grupo.
Sugestões práticas para a sala de aula
1. Assista com intencionalidade
Proponha a exibição dos episódios em horários específicos (como um projeto interdisciplinar ou dentro das aulas de projeto de vida, filosofia ou língua portuguesa). Assista com os alunos e faça pausas estratégicas para discutir trechos importantes.
2. Estimule o diálogo com perguntas abertas
Use perguntas que provoquem reflexão, como:
- Por que os personagens reagem com tanta frieza ao crime?
- Quais os efeitos da ausência paterna ou materna nas decisões de Jamie?
- Que tipo de conteúdo esses meninos estão consumindo online?
- O que é masculinidade tóxica? Como ela aparece na série?
- Como podemos desenvolver empatia dentro da escola?
3. Traga dados reais para contextualizar
Apresente pesquisas recentes sobre violência juvenil, saúde mental, uso excessivo de telas e abandono afetivo. Relacione com a realidade dos alunos.
4. Construa um mural colaborativo sobre empatia
Após os episódios, incentive os estudantes a criar frases, imagens ou colagens sobre o que significa sentir com o outro. O mural pode ser digital ou físico e aberto para toda a escola.
5. Promova rodas de conversa e escuta ativa
Crie um espaço seguro para que os alunos compartilhem suas vivências. Estabeleça combinados para garantir respeito e acolhimento. Use dinâmicas de escuta ativa, como as aplicadas no MenteInovadora, para fortalecer a habilidade de ouvir sem julgar.
6. Produza conteúdos a partir da série
Peça aos estudantes que escrevam crônicas, cartas fictícias aos personagens, ou mesmo roteiros alternativos com finais diferentes. Isso estimula a imaginação, mas também o envolvimento emocional com o tema.
7. Trabalhe o tema nas redes da escola
Transforme a discussão em um projeto de comunicação: vídeos curtos, posts de carrossel, podcasts ou exposições podem ser feitos pelos próprios alunos para compartilhar o aprendizado com a comunidade escolar.
Atenção ao papel do educador
É fundamental lembrar que muitos alunos podem se identificar com os dilemas da série — e isso exige um olhar atento. Alguns podem trazer dores silenciosas à tona: a ausência de um responsável, a sensação de não pertencimento, experiências de rejeição. Por isso, é essencial que o professor atue em parceria com a equipe pedagógica e, se possível, com o apoio do serviço de orientação escolar e psicologia educacional.
Muito além da ficção: o que fica
Adolescência não é apenas uma série. É um espelho. E como todo espelho, pode ser desconfortável. Mas também é uma oportunidade valiosa para educadores ajudarem os jovens a se enxergarem de forma mais empática, crítica e consciente.
Ao levar temas como empatia, masculinidade, violência simbólica e cultura digital para a sala de aula, a escola cumpre um papel essencial na formação de cidadãos mais íntegros e conscientes. E, com as ferramentas certas, como o MenteInovadora, esse caminho se torna mais possível, estruturado e potente.