Como a Dinamarca voltou às aulas
Como a Dinamarca voltou às aulas. Primeiro país europeu a retomar as aulas presenciais optou por iniciar o retorno com as crianças da Educação Infantil do primeiro ciclo do Ensino Fundamental
Embora seja muito desejado, tanto por nós, educadores, quanto pelas famílias de nossos alunos, o retorno às aulas presenciais pode despertar uma série de dúvidas em todos os grupos envolvidos. Como garantir que nossas crianças e professores não sejam contaminados? Quais restrições serão impostas ao convívio? Que adaptações serão necessárias no espaço físico das escolas? Quantas crianças serão permitidas por sala?
Enquanto aos pais só resta esperar, nós, educadores, temos muito trabalho a fazer no planejamento desse retorno. Para ajudar as escolas, o Educador360 iniciou, na semana passada, uma série mostrando como as escolas estão se organizando em países onde as aulas presenciais já foram retomadas, ainda que parcialmente.
Depois de apresentar as medidas adotadas na China , hoje trazemos a experiência da Dinamarca.
Dinamarca teve de conquistar a confiança dos pais
Primeiro país europeu a reabrir suas escolas, a Dinamarca retomou as aulas no dia 15 de abril depois de cinco semanas de isolamento restrito. O curto período de isolamento é creditado à velocidade com que o país decretou o lockdown, no dia 11 de março, ainda antes de registrar qualquer morte pela Covid-19. Em abril, quando o retorno foi decidido, o país apresentava 433 pacientes internados com a doença e a taxa de infecção havia caído para 0.6.
Os primeiros grupos a retornar foram justamente os da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. As autoridades se basearam duas constatações para tomar essa decisão:
- Estatisticamente, as crianças menores são as menos afetadas pela doença; e
- Para que pudessem render mais no trabalho em homeoffice, os pais precisavam que elas voltassem para as escolas.
Claro que os pais reagiram às medidas e alguns não queriam enviar seus filhos. Veja a seguir algumas medidas adotadas pelas escolas e como elas contornaram a resistência das famílias:
Retorno obrigatório
Diferentemente de outros países europeus, onde os pais podiam optar por enviar ou não os filhos à escola, o governo dinamarquês tornou obrigatório o retorno. Apenas os casos de crianças com laudo médico indicando risco para saúde, ou com consentimento do diretor escolar, foram dispensadas das aulas presenciais.
Esclarecimentos aos pais
Para diminuir as resistências, que existiram e se manifestaram por meio de grupos nas redes sociais, as escolas enviaram cartas às famílias dois dias antes do reinício das aulas enumerando todas as medidas de prevenção que foram adotadas.
Adultos do lado de fora
A entrada de pais e responsáveis no ambiente escolar foi proibida e todas as reuniões de pais foram suspensas.
Torneiras automáticas, pias externas e banheiros exclusivos para cada sala de aula
O governo aprovou fundos extraordinários para a instalação de pias do lado de fora, onde as crianças são orientadas a lavar as mãos antes de entrar nas salas. As torneiras normais, que exigiam contato físico, foram substituídas por dispositivos com sensores que liberam a água automaticamente quando os alunos aproximam as mãos da torneira. Em algumas escolas, banheiros foram construídos em cada sala de aula, para evitar a aglomeração de alunos nos banheiros coletivos.
Limpeza cirúrgica de pontos críticos
As escolas também usaram os fundos para ampliar as equipes de limpeza que fazem a higienização detalhada de pontos críticos, onde o contato físico com as mãos é inevitável, como corrimãos de escadas, interruptores de luzes e maçanetas de portas.
Uso de máscaras é opcional
Ao contrário de outros países, que exigem que as crianças frequentem a escola de máscara, as autoridades dinamarquesas liberaram os alunos desse equipamento. Os alunos são orientados a observar a regra de três pontos de prevenção adotada em todo país: lave as mãos, espirre na manga da blusa e mantenha-se distante.
Lavar as mãos
As crianças são orientadas a lavar as mãos a cada duas horas, da mesma forma limpar as superfícies de suas mesas com álcool em gel duas vezes durante o período das aulas.
Grupos menores nas salas com carteiras afastadas
As salas de aula foram divididas para que os professores trabalhem com números menores de alunos, limitados ao máximo de 14 estudantes. As mesas foram reorganizadas com a finalidade de manter a distância de 1 metro entre si, e a primeira fileira fica a dois metros do quadro. Essa limitação de espaço está sendo aplicada mesmo aos alunos da Educação Infantil.
Dia letivo mais curto
O dia escolar, que na Dinamarca era das 8h às 16h, foi reduzido e agora as crianças deixam a escola às 13h.
Pedagogia adaptada
As aulas foram redimensionadas para reduzir a permanência das crianças em espaços fechados. Assim sendo, tudo o que pode ser ensinado fora das salas acontece ao ar livre.
Barracas transformadas em salas de aula
Com o intuito de cumprir a exigência de montar grupos com menos alunos, algumas escolas partiram para o uso de barracas do lado de fora.
Intervalos escalonados e pátio demarcado
Nos intervalos, que foram escalonados para reduzir o número de alunos ao mesmo tempo no pátio, as crianças não podem se reunir em grupos com mais de quatro. Os grupos, por sua vez, devem se manter distantes uns dos outros. Os pátios escolares foram marcados para garantir essa distância e os brinquedos que não podiam ser facilmente higienizados foram removidos.
Plataformas integradas
Com o intuito de incluir aqueles que não retornaram por questões médicas, as escolas adotaram plataformas virtuais para fazer transmissões das aulas presenciais ao vivo.
Apesar da resistência inicial, as famílias se tranquilizaram ao perceber, com o passar do tempo, que a volta às aulas não havia gerado um aumento dos casos de Covid-19 no país. A doença continua ativa por lá, mas a taxa de infecção está em queda. Em meados de junho, o país somava 12.527 casos da doença, dos quais 11.347 haviam sido curados. O total de óbitos estava em 602.
14 Comentários. Deixe novo
OS PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PELA DINAMARCA FORAM BEM PLANEJADOS. AJUDOU BASTANTE. VOU SEGUIR OS PROCEDIMENTOS. MUITO GRATA .
Almerinda, tudo bem? A ideia não é seguirmos a risca o que ocorreu em um país específico, mas sim teremos uma visão global dos movimentos educacional em outras localidades. Essa Pandemia trouxe várias mudanças e também aprendizados. Estamos fazendo uma série de como está sendo o retorno às aulas ao redor do mundo e traremos projetos positivos também no Brasil. Para nos inspirar e contribuir com uma educação melhor.
País sério, com cuidado e preocupação com a saúde da população… São essas boa práticas que devemos nos inspirar.
Essa série de retorno as aulas em outros países nos mostram que os desafios e as necessidades são iguais em realidades diferentes, mesmo assim são práticas que servirão de experiência.
É preciso planejar o retorno, seguir os protocolos de saúde, ter recursos disponíveis, mas ainda assim nos sentimos inseguros. Tudo é novo, precisamos nos reinventar e criar possibilidades diante das dificuldades.
Mas aqui a nossa realidade e outra. Pois a nossa escola não irá ser assim .
Nossa realidade é bem diferente. Começa pela corrupção em compras de equipamentos e descaso no planejamento do retorno.
Se o Brasil fosse bum pais sem corrupção teríamos condições de adaptar as escolas para o retorno, mas como politizaram o Vírus!
Poder conhecer experiências de outros países é um ponto positivo, apesar de que a situação política e econômica de nosso país seja um caos. Sigamos com fé e esperança em dias melhores…
Na Dinamarca a política é outra, pensa -se nos lucros da economia, porém investem na Educação! Mas é bom ler reportagens sobre países que estão vencendo, afinal diante de tanta insegurança no Brasil, precisamos sim, de bons exemplos para continuarmos crendo que esta fase passará e que o novo normal acontecerá!
Acho importante um retorno seguro para profissionais e crianças.
Poder público necessita ouvir família, comunidade científica e profissionais para juntos promoverem um retorno seguro para todos
Se for para garantir a saúde de todos, acho ideal a alteração do horário.
Banheiro em cada sala…dividir os alunos em espaços diferentes…tudo isso pra nossa realidade é utopia…pq nem se quer sabemos o que vai acontecer com os alunos de professores de grupo de risco que não voltarão
. Serão divididos em outras salas sobrecarregando- as? Vão mandar professores substitutos??? Coisa simples…Vai ter sabonete suficiente pra várias lavagens de mãos? Interruptores, maçanetas, corrimãos…serão limpos várias vezes ao dia? Tem pessoal de limpeza pra isso? As perguntas são porque antes da crise não tinha dinheiro pra isso tudo…com toda crise…agora tem ????
Esses artigos de retorno as aulas em outros países nos mostram que os desafios e as necessidades são iguais mesmo em realidades diferentes,é sempre bom para aprendermos com os erros e acertos.