Como sua escola pode combater a evasão escolar
Confira dicas para sua escola combater a evasão escolar
A cada novo semestre, as aulas recomeçam e alguns dos alunos não voltam para a rotina escolar. As instituições escolares, nem sempre preparadas para a situação, enfrentam a temida evasão escolar com as ferramentas que possuem.
Estatísticas
O Brasil tem a 3ª maior taxa de evasão escolar entre 100 países com maiores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), tendo notas piores que o Chile, a Argentina, o Uruguai e o México, segundo o último relatório divulgado pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). O mesmo relatório afirma que a cada quatro alunos que iniciam o ensino fundamental no Brasil, um abandona a escola antes da última série.
Apesar de questionados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), os dados apresentados no relatório de 2012 despertam a atenção para este problema, que afeta as escolas e preocupa educadores, gestores e secretários de todo o país.
Abandono
O próprio Inep afirma que a taxa de abandono na rede pública ainda é muito alta, apesar de estar diminuindo. Em 2012, os dados do IBGE compilados pela ONG Todos Pela Educação, apresentou um dado de que apenas 50,2% dos jovens até 19 anos concluíram os anos finais da educação básica.
O fato é que o abandono dos estudos é apenas a última etapa de um longo processo que se apresenta nas primeiras faltas. Este artigo apresenta soluções práticas eficazes para os principais motivos que levam um adolescente a sair da escola, apoiados nos dados do PNAD (Pesquisas Nacionais por Amostra e Domicílios) e por uma pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Sociais da FGV – Fundação Getúlio Vargas em 2009.
A prevenção do abandono escolar
Antes de mais nada, existem duas providências básicas que podem prevenir essa situação:
- A chamada na sala de aula, para acompanhar as faltas e identificar os alunos que estão tendo problemas para ir à escola – e eventualmente identificar tais problemas.
- E a captação, registro e análise de dados para acompanhar o progresso de cada aluno nas disciplinas, entender falhas, trazer insights para o ensino, entre outras funções.
Que tal incluir estas ações no Projeto Político Pedagógico e levá-las como prioridade durante o ano todo?
Contrariando o senso comum, que diz que a necessidade de trabalho seria a razão principal para o abandono dos estudos na Educação Básica, o desinteresse por parte dos alunos é o principal motivo, revelado por 40,3% dos jovens de 15 a 17 anos, segundo a pesquisa da FGV.
Repense
Este dado reforça a necessidade de renovação do currículo escolar para melhor envolver os alunos nos estudos e nas atividades da instituição. É necessário repensar:
- O excesso de conteúdo;
- A postura de único remetente e autoridade da escola e dos professores e
- A falta de contextualização das matérias no dia a dia dos alunos.
A diretora pedagógica da Associação Cidade Escola Aprendiz, Helena Singer, analisa:
“Os interesses dos alunos não são contemplados nas escolas, tudo já vem pronto e decidido. Os jovens precisam ser convidados para fazer parte do debate da proposta da escola, com fóruns de discussão modelos que contemplem os estudantes”
O principal motivo do desinteresse
O desinteresse representa o principal motivo para que os estudantes abandonem as escolas, mas há outras causas igualmente importantes, como a necessidade de dedicar-se a um emprego fixo e a dificuldade de acesso à escola.
Em todos os casos, é preciso estudar as necessidades específicas e desenvolver estratégias de flexibilização das aulas e mobilização da comunidade escolar. Porém, evoluções positivas na motivação, engajamento e envolvimento dos alunos nos estudos são capazes de minimizar as outras causas e fazer com que os próprios alunos busquem soluções de acesso aos estudos.
Sendo assim, é importante que os educadores se planejem, analisem o cenário ao longo do ano e identifiquem formas de aumentar o prazer e a satisfação dos estudantes em sua relação com os estudos.
Para auxiliar sua equipe na busca desse objetivo, preparamos algumas sugestões
Crie vínculos com atividades interativas
Nesse sentido, a inserção de práticas que envolvem mais intensamente os alunos e que estabelecem conexão direta com seu universo é a melhor alternativa.
Primeiramente, é preciso que seja criado um vínculo entre o aluno e a escola. Pequenas atitudes como chamar os alunos pelo nome e propor atividades diferenciadas que atendam às características de cada turma podem iniciar esse trajeto de criação do vínculo.
Posteriormente, é preciso ir além das atividades teóricas e propor reflexões e atividades interativas. Uma alternativa é utilizar o Programa MenteInovadora da Mind Lab para engajar os alunos. Os jogos de raciocínio envolvem os grupos em um objetivo comum e simulam desafios do dia a dia enquanto o professor introduz reflexões sobre os aprendizados. Esse tipo de prática é muito importante para aproximar os estudantes da escola e despertar o interesse pela arte de pensar.
Utilize tecnologia com a estrutura disponível
Segundo dados de um levantamento realizado pela Kantar Worldpanel em 2014, a maior base de proprietários de smartphones no Brasil está na Classe C. 36% dos donos desses aparelhos celulares estão nessa classe, enquanto 34% encontra-se na D e 30% na AB.
Segundo outro estudo, realizado pela VIVO-Telefônica, mais de 50% dos jovens brasileiros dizem acessar as redes sociais mais de uma vez no dia. Esse número chega a 66% no Nordeste, região que mostrou maior intensidade de acessos às redes, contra 61% na região Norte, 60% no Sudeste, 40% no Centro-oeste e 39% no Sul.
É importante interpretar este cenário para propor formas de adaptar as necessidades dos alunos às realidades das escolas. Os professores podem utilizar-se de ferramentas gratuitas para a inserção da tecnologia dentro da sala de aula. Muitas das plataformas educacionais propõem atividades que podem ser realizadas sem custo e nos celulares dos próprios alunos.
Universo digital
É possível trazer o universo digital, com o qual os jovens já estão habituados, para dentro da sala de aula, aproveitando a tecnologia para deixar o espaço de aprendizagem mais atrativo. Outra vantagem da utilização de ferramentas online é a facilidade do acompanhamento da evolução e do engajamento dos alunos de maneira geral e em disciplinas específicas. Porém, é importante lembrar que a utilização da tecnologia por si só não é um bom vetor de envolvimento dos alunos nos estudos – para o sucesso da estratégia é preciso buscar tecnologia com significado em função da complementação do processo de ensino-aprendizagem tradicional.
Mostre a importância dos estudos para a conquista dos sonhos
Para motivar os alunos, também é importante fazê-los entender o impacto positivo que a Educação pode ter em suas vidas. Para isso, é preciso que a escola não se limite a discursos motivacionais, é preciso mostrar o que os alunos podem conquistar ao adquirirem uma boa formação: como podem mudar sua realidade por meio dos estudos.
Os gestores podem buscar ajuda de ex-alunos e diferentes pessoas que tiveram a formação básica na rede pública e utilizaram os estudos para mudar de vida e alcançar seus sonhos. Depoimentos sobre casos reais e inspirações com as quais os jovens se identificam têm um impacto muito maior que discursos. É preciso ilustrar as possíveis recompensas pelo esforço depositado nos estudos. Além disso, muitas vezes estes jovens não possuem uma figura de inspiração em suas famílias ou em sua comunidade e isso pode ser vital para fortalecer seus objetivos e força de vontade.
Utilize medidas efetivas
Uma medida prática e efetiva é estimular que os alunos desenhem seu próprio plano de vida. Idealmente esse exercício deveria ser contemplado nos anos finais do Ensino Fundamental ou início do Ensino Médio, etapa que apresenta o maior índice de evasão escolar. Um bom exemplo nesse campo é o programa Oficina de Sonhos, implantado pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, que acontece nas primeiras semanas de aula dos alunos do 1º ano do Ensino Médio e já beneficiou milhares de jovens.
Conscientize as famílias e a comunidade
O envolvimento da família na vida escolar dos filhos é fator de sucesso em quase 100% dos casos. Mas isso representa também um grande desafio, sobretudo para escolas públicas.
É preciso que toda a equipe de gestão do Ensino Público trabalhe em parceria em favor desse objetivo, unindo desde ações o Secretário de Educação até o Coordenador e os professores de cada escola. É necessário promover momentos de integração entre a escola e a família para que a conscientização da importância dos estudos também tenha início dentro de casa. Sem o incentivo dos pais, os alunos não criam hábitos de estudo fora da sala de aula e a escola não consegue sustentar o hábito apenas durante o período de aulas.
Integração familiar
Durante as integrações das famílias, é preciso demonstrar a importância dos estudos, mas é essencial oferecer dicas práticas sobre como elas podem incentivar a dedicação dos filhos nos estudos. A maioria das famílias entende a necessidade dos estudos e considera a Educação um fator muito importante no desenvolvimento dos filhos, mas não sabe como deve agir, cobrar e orientar efetivamente os estudantes. A escola deve oferecer recomendações que auxiliem as famílias nesse sentido.
Alguns exemplos de indicações importantes são:
- Estabelecer horários para que as crianças realizem as diferentes tarefas rotineiras (brincar, descansar, comer, estudar…): Essa organização é muito importante para que elas desenvolvam hábitos de estudo e disciplina na contraposição entre as atividades de lazer e seus compromissos da escola.
- Conversar com os filhos, todos os dias, sobre os assuntos que foram abordados nas aulas e pedir que eles expliquem os conceitos aprendidos: Mesmo que os pais não tenham concluído seus estudos e não possam apoiar ou corrigir os filhos no que diz respeito às matérias, eles podem utilizar esse fator em seu favor e pedir que os filhos os ensinem seus aprendizados.
- Incentivar a organização dos materiais de estudo na casa: É necessário que os livros, cadernos e materiais de estudo sejam reunidos e organizados em um local específico para que os alunos relacionem o local a sua rotina de estudos. Esse “cantinho” não precisa ser um local elaborado para isso, mas, nas devidas proporções, deve transmitir a ideia de que a Educação é valorizada e priorizada dentro de casa.
Monitore as ações
Acreditamos que a união entre todas as esferas da comunidade escolar em busca da recuperação do interesse dos alunos pelos estudos, com ações e acompanhamento constante, é a melhor maneira de obter resultados significativos no combate à evasão escolar. Neste sentido, é imprescindível que as ações sejam implementadas e acompanhadas durante o ano todo – e não somente no início ou fim do ano letivo. Esse acompanhamento faz com que a escola estabeleça ações preventivas, antecipando-se às evasões e evitando o momento no qual é muito mais difícil recuperar o aluno: após o abandono e quando ele já não vê relevância em continuar os estudos.