Os desafios dos professores dos anos finais do ensino fundamental
Os anos finais do ensino fundamental representam uma fase crucial para o desenvolvimento dos estudantes. Essa etapa coincide com a adolescência, um período marcado por intensas transformações emocionais, sociais e cognitivas. Para os professores, o desafio de lecionar nesse contexto vai além dos conteúdos disciplinares: eles precisam dialogar com os interesses dos jovens e criar um ambiente de aprendizagem significativo. Mas quem são esses docentes? O que os motiva? Quais são suas dificuldades?
Uma pesquisa nacional da NOVA ESCOLA, realizada com cerca de mil professores de todo o país, buscou responder a essas questões. O levantamento investigou quatro grandes aspectos: perfil e relação com a docência, ambiente escolar, percepções sobre a adolescência e práticas pedagógicas. Os dados oferecem um retrato importante dos desafios e oportunidades desse segmento da educação básica.
Perfil dos professores: quem ensina nos anos finais
Os dados mostram um grupo predominantemente feminino (72%) e com alta escolarização: 72,2% dos entrevistados têm pós-graduação. A maioria leciona nas redes municipal e estadual e trabalha entre 20 e 40 horas semanais. Quanto às motivações, os principais fatores que levam esses profissionais a atuarem na educação são:
- Influência positiva na vida dos alunos (55,38%)
- Contribuição para a sociedade (51,66%)
- Paixão por ensinar (47,74%)
Professores como Rosiane Prates e Viviane Ferreira relatam que o prazer pelo conhecimento e o impacto social da educação foram determinantes para suas escolhas profissionais. No entanto, os desafios não são poucos.
Desafios no ambiente escolar
O ambiente escolar é um dos aspectos que mais impactam a satisfação e o desempenho dos professores. Os principais desafios apontados na pesquisa incluem:
- Falta de interesse dos estudantes (80,4%)
- Baixa remuneração (49,6%)
- Dificuldades com as famílias (35,2%)
A professora Miriam Santana destaca que o desinteresse dos alunos está muitas vezes relacionado à desconexão entre o conteúdo escolar e a realidade dos estudantes. A diversificação das metodologias, como debates e produções criativas, pode ser uma estratégia para reverter essa situação.
A questão da violência também preocupa: 48% dos professores afirmaram que casos de violência psicológica, física e bullying aumentaram em 2024. Para lidar com isso, Miriam aposta na mediação de conflitos e na promoção de um ambiente acolhedor e inclusivo.
A relação dos professores com a adolescência
Nove entre dez professores percebem mudanças comportamentais significativas nos alunos. No 6º ano, a necessidade de orientação é maior, enquanto no 9º ano, o desafio é manter o engajamento e o senso de pertencimento.
O uso excessivo de tecnologia também é um fator que preocupa os educadores: 90% acreditam que os alunos passam tempo excessivo nas redes sociais e dispositivos eletrônicos, o que pode impactar sua aprendizagem.
Por outro lado, a pesquisa também mostrou avanços em relação à inclusão: 80% dos professores consideram que suas escolas valorizam a diversidade e abordam temas como gênero, antirracismo e inclusão de pessoas com deficiência.
Práticas pedagógicas e aprendizagem
Um dos achados mais preocupantes da pesquisa é que apenas 26% dos docentes acreditam que seus alunos são alfabetizados e têm fluência adequada em leitura. Apenas 19% concordam que possuem letramento matemático adequado.
Professores como Rosiane e Miriam enfatizam a necessidade de conectar o conteúdo escolar à realidade dos alunos. Projetos interdisciplinares, uso de literatura contemporânea e atividades dinâmicas podem ser estratégias eficientes. O Programa MenteInovadora, por exemplo, pode contribuir ao desenvolver habilidades cognitivas, sociais e emocionais através de jogos e estratégias metacognitivas.
Outro dado relevante é que apenas 47% dos professores acreditam que o currículo de suas escolas está conectado às necessidades dos adolescentes. A flexibilização curricular e a adoção de metodologias ativas podem ser caminhos para melhorar essa conexão.
Um caminho de possibilidades
Os desafios enfrentados pelos professores dos anos finais são expressivos, mas também existem oportunidades. Iniciativas como formação continuada, apoio socioemocional e novas abordagens pedagógicas são essenciais para transformar a educação dessa fase.
A adolescência é um período de descobertas e possibilidades. Com um olhar atento às demandas dos estudantes e a valorização dos professores, é possível construir uma escola mais significativa e conectada às realidades juvenis.