Jogos de azar e estudantes: riscos no desempenho escolar
Nos últimos anos, os jogos de azar, como apostas on-line e cassinos virtuais, têm se tornado uma ameaça cada vez mais presente entre crianças e adolescentes. A promessa de “dinheiro fácil” oferecida por sites e influenciadores tem atraído jovens que, muitas vezes, acabam negligenciando suas responsabilidades escolares e enfrentando consequências sérias, como o vício em jogos, dificuldades financeiras e problemas emocionais. A questão é alarmante, e o impacto direto sobre o desempenho escolar e o desenvolvimento emocional de jovens estudantes tem preocupado pais, educadores e especialistas.
Neste post, exploraremos como a popularização dos jogos de azar tem afetado a vida dos estudantes e o que pode ser feito para combater essa tendência, preservando o futuro educacional e emocional da juventude.
O crescimento dos jogos de azar entre crianças e adolescentes
A expansão dos jogos de azar, especialmente on-line, tem sido impulsionada pela regulamentação mais flexível em alguns países e pelo aumento da publicidade nas redes sociais. A popularidade dos sites de apostas com “quotas fixas” e de jogos como o “Jogo do Tigrinho” tem atraído não apenas adultos, mas também um público juvenil. Segundo um levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 22% dos adolescentes começam a apostar antes dos 11 anos de idade, o que reflete a urgência de medidas preventivas.
Além disso, o uso de influenciadores mirins para promover cassinos e plataformas de apostas on-line intensificou o problema. Campanhas publicitárias direcionadas aos jovens prometem dinheiro rápido e fácil, mas o resultado tem sido comportamentos compulsivos, queda no desempenho escolar e dificuldades emocionais.
O impacto dos jogos de azar no desempenho escolar
A dedicação que antes era direcionada aos estudos tem sido substituída pelo tempo gasto em plataformas de apostas. Professores relatam mudanças comportamentais significativas em seus alunos, que, antes engajados e participativos, agora mostram desinteresse pelo aprendizado. Como descreve o professor Gilmar Soares Ferreira, da rede estadual de Mato Grosso, no site da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, “alguns alunos não querem mais saber de estudar… Eles me perguntam: ‘Por que vou estudar se estou ganhando dinheiro?'”.
Essa inversão de prioridades reflete o impacto negativo dos jogos de azar no rendimento escolar. Estudantes que antes eram ativos em sala de aula começam a faltar nas aulas, se isolam socialmente e demonstram desobediência às regras. Isso não apenas prejudica o ambiente escolar, mas também compromete o desenvolvimento social e emocional dos jovens, gerando lacunas difíceis de serem preenchidas.
A influência da família e o papel do diálogo
Para a psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), o comportamento familiar pode ser um fator determinante no desenvolvimento do vício em jogos de azar. “Famílias que não estabelecem limites claros para o tempo de uso de telas ou que não supervisionam adequadamente o conteúdo que as crianças consomem podem inadvertidamente contribuir para o aumento do uso de jogos on-line.”
A falta de diálogo sobre os riscos dos jogos de azar e a ausência de alternativas de lazer podem agravar o problema. Muitos jovens veem nas apostas uma forma deixar de lado problemas familiares ou escolares, buscando nos jogos uma válvula de escape para suas frustrações. Isso gera um ciclo perigoso de dependência emocional e financeira.
O papel das plataformas digitais e a responsabilidade dos influenciadores
Em junho de 2023, o Instituto Alana, por meio do programa Criança e Consumo, denunciou o uso de influenciadores mirins, com idades entre 6 e 17 anos, para promover plataformas de apostas. Essa prática não apenas viola os direitos da criança e do adolescente, mas também explora de forma irresponsável a vulnerabilidade dos jovens, incentivando comportamentos de risco.
A publicidade de apostas on-line nas redes sociais é intensa, e os adolescentes se tornam alvos fáceis de promessas ilusórias de riqueza. É fundamental que pais e educadores estejam atentos ao tipo de conteúdo que seus filhos e alunos consomem, assim como é importante também pressionar as plataformas digitais a adotarem medidas mais rígidas de controle de publicidade para menores de idade.
Como prevenir o vício em jogos de azar?
Diante desse cenário, é essencial que pais, escolas e autoridades públicas se unam para criar uma rede de proteção que possa evitar o agravamento desse problema entre os jovens. Abaixo, apresentamos algumas dicas práticas para lidar com o vício em jogos de azar:
- Educação digital desde cedo: ensinar as crianças sobre os perigos do uso excessivo da internet, incluindo os riscos das apostason-line, é essencial. Discussões em sala de aula e em casa podem aumentar a conscientização sobre o problema e preparar os jovens para tomarem decisões mais conscientes.
- Estabelecimento de limites: é fundamental que os pais monitorem o uso das telas e o tempo que os filhos passam na internet. Definir horários claros para o uso de dispositivos eletrônicos e supervisionar o conteúdo acessado são medidas básicas para prevenir o vício.
- Proporcionar alternativas de lazer: oferecer atividades que envolvam interação social, esportes e hobbies fora das telas ajuda a manter o equilíbrio entre lazer e aprendizado. Incentivar a prática de jogos que desenvolvem habilidades cognitivas e emocionais, como os propostos pelo Programa MenteInovadora da Mind Lab, pode ser uma excelente estratégia.
- Diálogo constante: manter um canal de comunicação aberto com os filhos e alunos é a chave para entender o que está acontecendo em suas vidas. Conversar sobre os perigos das apostas e dos jogos de azar de maneira franca pode evitar que o problema se agrave.
- Apoio psicológico: caso o jovem já apresente sinais de dependência em jogos de azar, é importante buscar ajuda profissional. Psicólogos e psiquiatras podem oferecer estratégias de tratamento para lidar com o vício e promover a recuperação emocional.
A responsabilidade do governo e das plataformas digitais
Além das medidas individuais, é crucial que o governo e as plataformas digitais assumam um papel ativo no combate à disseminação dos jogos de azar entre os jovens. A regulação mais rigorosa de sites de apostas e a proibição de campanhas publicitárias voltadas para menores de idade são ações urgentes. O governo também deve considerar a criação de políticas públicas que abordem a educação digital e o uso consciente da tecnologia nas escolas.
Em setembro de 2023, o Banco Central revelou que R$ 3 bilhões foram gastos em apostas on-line por participantes do Bolsa Família, mostrando a gravidade do problema também entre as camadas mais vulneráveis da população. É fundamental que medidas mais assertivas sejam tomadas para conter o avanço desse vício.
O vício em jogos de azar entre jovens é uma questão séria que exige atenção urgente de toda a sociedade. A promessa de dinheiro fácil atrai muitos adolescentes, mas o impacto desse comportamento pode ser devastador, comprometendo o desenvolvimento escolar, emocional e financeiro dos jovens.
Ao unir pais, escolas, plataformas digitais e o governo em torno de uma estratégia de prevenção e educação digital, é possível combater essa tendência e garantir que as novas gerações se desenvolvam de maneira saudável, focadas na educação e em atividades que realmente contribuam para o seu crescimento pessoal e profissional.