Habilidades socioemocionais nas férias: como os alunos lidam com a autonomia fora da escola?
Durante todo o ano letivo cada vez mais parte da preocupação das escolas é inserir habilidades socioemocionais em seu currículo. E até diferente da relação que se tem com outras matérias, essas habilidades precisam continuar sendo trabalhadas todos os dias. Então, qual é o melhor direcionamento diante de um período longo de pausa como as férias?
Primeiro, é preciso lembrar que as férias propõem o desenvolvimento e aplicação prática de diversos aprendizados ao longo do semestre. Ainda assim, reforça alguns mais do que outros, como o da autonomia por exemplo.
Afinal, é diante da ausência ou diminuição de tarefas e cronogramas orientados pela escola, que eles se veem mais livres e ao mesmo tempo responsáveis por suas escolhas. E quanto maiores forem as crianças ou jovens, mais elas precisarão escolher.
Isso porque ainda que as férias pressuponham pausa, decidir como passar o tempo nem sempre é tão simples assim, especialmente em uma época repleta de estímulos e opções.
É o que reforça a teoria “O Paradoxo da Escolha”, de Barry Shwartz. Segundo essa teoria, boa parte do estresse e da insatisfação contemporânea se deve ao excesso de escolhas. Seja pela dúvida com a capacidade de optar a todo momento e nos tirar do foco, ou pela completa estagnação devido ao medo de decidir.
Você pode assistir aqui, um vídeo animado que fornece alguns exemplos claros sobre a teoria de Schwartz.
Já para os alunos, qualquer um dos opostos pode ser prejudicial e irá requerer determinadas habilidades que serão muito testadas durante as férias. Afinal, o período é de descanso, mas nem por isso deve ser improdutivo.
Dessa forma, é importante que as escolas saibam que, mesmo considerando a distância e falta de controle, é possível sim estimular nos alunos uma postura mais consciente e reflexiva durante esses períodos.
Liberdade requer responsabilidade!
“Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos nos guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas.”
Jean-Paul Sartre
A frase do filósofo Jean Paul Sartre ilustra bem a dinâmica de liberdade. O que logo nos remete ao fato de que, talvez mais importante do que ensinar regras, é ensinar a decidir. Portanto, também cabe às escolas guiar os alunos para que treinem o processo de “tomada de decisão” e em consequência saibam gerenciar melhor o seu tempo.
Isso porque cada dia requer atitudes e todas elas terão consequências. Ainda que simples, como acordar cedo e aumentar a produtividade do dia ou então dormir por muitas horas e perder o café da manhã.
O que vale reparar é que, diferente da vida adulta, de fato, as consequências das decisões são menos impactantes quando se é mais novo. Porém, essas mesmas atitudes tomadas durante a infância e adolescência demonstram os traços e habilidades (ou falta delas), que provavelmente continuarão a acompanhar esses alunos no futuro caso não sejam ajustadas.
Durante as férias, não é incomum ver crianças que transitam entre a inércia ou o excesso de lazer. Mas a proatividade em buscar atividades enriquecedoras e que exijam determinado esforço e reflexão são traços importantes e que irão refletir até mesmo seu nível de maturidade.
Ou seja, as habilidades como proatividade para tomar iniciativas, autonomia para fazer suas próprias escolhas e mesmo o planejamento para se organizar entre elas estão em foco durante qualquer momento longe dos cronogramas delimitados.
E ainda que escola não possa ter esse acompanhamento de perto, todas elas também serão reflexo do aprendizado durante o período de aulas.
O que a escola pode propor para ajudar?
Mesmo com a distância, o ideal é que a escola proponha, ao menos, atividades e reflexões que possam ser praticadas durante as férias. Por não serem obrigatórias, é que a mensuração de habilidades como autonomia estarão em evidência.
Independente do resultado ser positivo ou negativo e caso os alunos não se mostrem tão engajados, esse pode ser o perfeito sinal de que a abordagem de ensino precisa ser revista para o próximo semestre.
Se os alunos estão sempre desinteressados e não fazem nada além do que sentem ser obrigação é provável que não estejam sendo emocionalmente estimulados, ou seja, não se sentem conectados com o aprendizado.
Só vale lembrar que é importante oferecer algumas opções diferentes de atividades para que possam escolher, já que nem todos terão os mesmos interesses.
Portanto, estimule vídeos, filmes, livros, jogos e ou até mesmo atividades extracurriculares online. Da mesma maneira, sinalize um debate ou atividade em torno do que foi proposto, para quando retornarem. Assim, eles irão ter um objetivo a mais e explorar a reflexão em torno do assunto.
É possível também direcioná-los de forma mais livre e criativa, como contar suas histórias de férias por exemplo, mas com foco em habilidades socioemocionais. Seja o que aprenderam, quais foram os momentos de superação e o que eles identificaram que precisam melhorar devido à alguma situação que vivenciaram nesse sentido.
Alunos prontos para a vida e para o futuro
O importante, é entender as férias como um momento conectado com o resto do ano letivo, ainda que a partir de outros pontos de vista. Afinal, a proposta do desenvolvimento integral inclui todos os momentos em todas as fases da vida.
O que seus alunos souberem desenvolver de maneira independente durante as férias ou mesmo depois da escola, com certeza é sinal de que o aprendizado está arraigado de maneira profunda e que eles estão mais preparados para o mundo real. Sinal de que a sua escola está fazendo um bom trabalho, já que quanto menos os educadores precisam ser requisitados, melhor é o trabalho de direcionamento que estão desempenhando.