Como identificar, prevenir, combater o bullying e agressões na escola
Combater o bullying é de extrema importância quando há um convívio escolar
❝A escola não deve ser apenas um local de ensino formal, mas também de formação cidadã, de direitos e deveres, amizade, cooperação e solidariedade. Combater o bullying é uma forma barata e eficiente de diminuir a violência entre estudantes e, posteriormente, na sociedade.❞
Lauro Monteiro Filho
Pediatra e fundador da Abrapia (Assoc. Bras. Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), em entrevista à Revista Nova Escola
Por onde começar
Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2013 revelou que um em cada cinco adolescentes com faixa etária entre 13 a 15 anos pratica bullying no Brasil. Sabendo dos efeitos carregados por este problema tão comum em escolas de todo o mundo, elaboramos este conteúdo para auxiliar na identificação, na prevenção e combater o bullying em grandes escalas.
Mesmo que alguns entendam as consequências deste tipo de prática no comportamento e no desenvolvimento dos estudantes, não é raro encontrar pais e funcionários que não denunciem o bullying. Muitas vezes, as pessoas presumem que é uma atitude normal entre crianças e adolescentes, sem compreender seus impactos.
Toda a comunidade escolar deve ter a consciência do que é o bullying, entender como identificá-lo, previní-lo e combatê-lo. Para elaborar as ações contra essas agressões, é preciso entender seus principais elementos:
Como prevenir e combater o bullying em longo prazo
Incentivando a diversidade
O empoderamento e a valorização da diversidade são importantes temas e incentivos que podem ser inseridos em diversas matérias da grade curricular.
A solidariedade, a diversidade, o comportamento ético e o respeito devem ser estimulados sendo temas de trabalhos em grupo e exercícios. Os educadores devem incentivar a empatia em toda e qualquer tarefa e o ambiente deve favorecer a comunicação entre todos os alunos. Também é importante que a escola crie campanhas que incentivem a denúncia e proponha encontros para discutir assuntos como: desrespeito, agressão e bullying.
Interferindo ao menor sinal de bullying
É essencial que os funcionários e o corpo docente não ignorem quaisquer suspeitas de bullying. Ao menor sinal de provocação, são eles que possuem o poder de orientar os alunos a se respeitarem e terem empatia com os outros. Essa orientação tem o objetivo de fazê-los entender que cada indivíduo possui suas características, que isso não o faz melhor ou pior que o outro e que o desrespeito entre os alunos é inaceitável e só traz consequências ruins para ambas as partes.
E de cyberbullying
Na internet, o jovem agressor pode ganhar anonimato e uma grande plateia e por isso se sente mais forte. De qualquer maneira, proibir o uso da internet na escola não é uma solução, pois os atos ainda podem ser praticados fora dela.
É importante conscientizar os alunos orientá-los quanto aos bons e maus usos da internet, sugerir atividades educativas na rede e mostrar as possíveis consequências de práticas perigosas. Bate-papos descontraídos sobre as relações interpessoais na rede, com conselhos e direcionamentos para casos de implicância de colegas também são uma alternativa.
Apenas em casos graves, considerar o registro de um B.O.
No caso de agressões físicas ou psicológicas graves, pode-se considerar o registro de um BO, dependendo da decisão da família. O boletim depende muito do tipo de bullying cometido e deve ser repensando centenas de vezes antes de ser realizado, pois uma visita à delegacia pode mais prejudicar que ajudar a resolver a situação. Lembre-se: no caso de um BO, quem figura como infrator é o agressor, seja ele um menor de idade ou não. A escola e a família apenas atuam como responsáveis.
Como identificar os casos de agressões
No contexto escolar, esta prática pode ser definida como uma sequência de agressões intencionais, sejam elas físicas ou verbais (e até virtuais), realizada por um ou mais alunos contra um colega. Diferentemente de um conflito isolado, o bullying é repetitivo e carrega a possibilidade de danos psicológicos em sua atuação. Mesmo uma fofoca de mal gosto pode tornar-se bullying.
O agressor
Os especialistas definem que, em geral, o agressor possui um comportamento provocador, passa a impressão de ser autoconfiante e pode ser popular entre os colegas. Às vezes, sua relação familiar é pouco afetiva ou apresenta uma rotina de constante pressão para a realização de atividades, seja na escola ou em casa.
A vítima
Costumam ser tímidas e menos confiantes, e carregam características consideradas distintas pelos demais, sejam estas: diferenças físicas, nomes incomuns, comportamento diferenciado ou quaisquer outras condições.
A coordenação e o corpo docente devem estar atentos aos menores sinais, a fim de evitar situações de agressão. Para identificar alunos que possam sofrer este tipo de abuso, pode-se observar a recusa em ir à escola e repentinas demonstrações de irritação, baixa autoestima, pouca socialização com os colegas, medo e vergonha excessivos, queda no rendimento escolar e alterações do sono ou apetite.
Como tratar os envolvidos no bullying
Tanto a vítima como o agressor sofrem, portanto, ambos devem ser tratados. Em muitos casos, o acompanhamento psicológico é importantíssimo para tratar as sequelas e auxiliar as crianças na relação com os estudos, a família e as emoções.
O tratamento também é importante para identificar o tipo de bullying e suas causas. Um psicólogo pode identificar, por exemplo, se a criança agressora possui algum transtorno de conduta. Caso este tipo de acompanhamento não esteja previsto por lei, é razoável aconselhar que os gestores locais busquem o SUS, clínicas universitárias ou serviços sociais para prestar o serviço.
A vítima envolvida
Os gestores escolares devem orientar, inicialmente, que os agredidos não respondam ao agressor, já que isso pode aumentar a raiva dele, além de não resolver o problema.
A vítima deve passar por uma terapia psicológica, enquanto a escola a envolve em programas de empoderamento. Neste momento, a criança precisa saber o seu valor, aprender a não ser atingida por implicâncias e agressões e recompor sua autoestima. É importante deixar claro para a vítima, independentemente da sua idade, que ela não é culpada pelas perseguições que vem sofrendo, reafirmando seus valores.
O agressor envolvido
Quézia Bombonatto, psicopedagoga e presidente da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia), em entrevista ao Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, diz que o agressor carrega uma série de conflitos:
“Ele sofre bastante, mas descarrega toda a carga negativa em outra pessoa. A família, junto à escola, deve ampará-lo. Contudo, acontece de muitas vezes a família incentivar o comportamento”.
Tratando o agressor envolvido
O agressor deve aprender a colocar-se no lugar do outro e entender as possíveis consequências da prática que realizou no colega, mesmo que não vá arcar com elas. É importante que ele entenda que não é melhor que o outro, e que também possui suas características únicas. Em seguida, é aconselhável que o jovem que praticou bullying retrate-se pedindo desculpas ao colega.
O desenvolvimento das habilidades socioemocionais e éticas também são um caminho de prevenção e tratamento de vítimas e agressores, que costumam ter dificuldade de se relacionar em grupo de igual para igual e responderem à estímulos emocionais.
Como orientar as famílias e os educadores a respeito das agressões
No artigo 3 iniciativas para envolver as famílias na Educação sugerimos que a instituição estreite a relação com as famílias oferecendo apoio e palestras que as conscientizem sobre assuntos cotidianos, dentre eles, o bullying. Este tipo de evento pode ser pode oferecer um bate-papo com alguns convidados e um grande número de pais no pátio da escola, por exemplo. Esse momento também contribui para a conscientização de toda a comunidade escolar, incluindo professores e funcionários.
Observando os sinais
Nestes bate-papos, é importante sugerir que as famílias fiquem atentas aos sinais de um quadro de bullying (citados no item “Saber como identificar”), orientando que procurem a escola para relatar as suspeitas. É preciso observar sinais como impaciência, baixa autoestima, vontade frequente de faltar as aulas e desânimo. Além disso, é importante que os responsáveis acompanhem as redes sociais dos filhos e suas atividades na internet, onde boa parte as agressões pode começar.
Quando acontece
A prática do bullying é comum na infância e adolescência, pois pode ser utilizada como uma ferramenta na busca de autoafirmação do agressor ou até como uma repetição de atos dos adultos. Por isso, é praticamente impossível erradicar a prática, mas é possível e necessário diminuir consideravelmente seus índices a partir de campanhas de prevenção e do desenvolvimento socioemocional dos estudantes.
A comunidade escolar deve estar sempre atenta e em um trabalho constante de acompanhamento dos alunos e famílias para evitar, tratar e prever casos de agressão física e moral na escola.
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Este texto foi selecionado para inclusão na campanha da editora educativa Twinkl sobre o Dia Escolar da Não Violência e da Paz.